Publicado em 09/10/2014 09h45

Retenção de fêmeas em três dos quatro maiores produtores de carne bovina aumenta a demanda e preços mundiais

O cenário nunca esteve tão favorável à pecuária brasileira. Apesar do mercado interno estar segurando os preços, a expectativa é de que eles se mantenham firmes devido a alta demanda mundial, puxando também, outras carnes como aves e suínos.
Por: Wisley Torales

Texto e Foto: Wisley Torales

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A análise é do economista Alexandre Mendonça de Barros que esteve em Campo Grande e falou para mais de 100 pessoas no dia 09 de Setembro, a convite da Macal Nutrição Animal, na Famasul (Federação de Agricultura e Pecuária do Mato Grosso do Sul), sobre o cenário político, econômico e suas previsões para os próximos anos.

Para Alexandre, o momento é muito favorável para a pecuária de corte. Apesar do aquecimento do mercado interno não ter se confirmado, e a copa do mundo não ter trazido os benefícios que eram esperados, a demanda mundial aumentou devido ao alto abate de fêmeas dos últimos anos, "nunca houve um desequilíbrio tão grande no mercado mundial de carnes" afirma Alexandre. 

Segundo ele, nos Estados Unidos, maior produtor de carne do mundo, o rebanho conta com 87,73 milhões de cabeças, o menor dos últimos 63 anos, as vacas e novilhas somam 38,251 milhões de cabeças, menor em 73 anos  e os bezerros, 13,228 milhões de cabeças, o menor rebanho em 64 anos.

"Os Estados Unidos, de maiores exportadores, se tornaram importadores. Isso se deu devido a forte seca que fez elevar o preço dos grãos, que conseqüentemente aumentou o custo de produção, fazendo com que o produtor reduzisse seu rebanho. Hoje esse mesmo produtor precisa reter as fêmeas, mandando para o abate apenas os machos ou 50% da sua produção aproximadamente, para fazer a reposição" afirma Alexandre.

"Na Austrália o produtor também sofreu com a seca, que inclusive foi ainda mais severa que a dos Estados Unidos. A saída encontrada foi forçar o abate: produtores vendiam e embarcavam muito gado em pé para não morrer de fome. Analistas australianos estimam que 2015 tenha 1 milhão de abates a menos que 2014," comentou.

Alexandre abriu um parêntese sobre a Índia, "a Índia é um caso a parte. Os dados do governo não são confiáveis, apesar de ser o segundo maior exportador, a carne é barata e de baixa qualidade".

No Brasil a situação não é diferente, o produtor também sofreu com a alta dos grãos e abateu muitas matrizes nos últimos anos. Apesar do mercado interno corresponder a 85% do montante produzido de carne (segundo dados do Mapa), hoje o número de abates diminuiu, o que fez aumentar ainda mais a demanda internacional. Segunda Alexandre, a Australia reduziu e vai reduzir ainda mais as exportações para a China, seu principal comprador, resultado disso foi que a China buscou no Brasil um parceiro comercial para o fornecimento de carne bovina. 

"Nos Estados Unidos, a expectativa é de que a safra de grãos seja muito boa, no Brasil tivemos duas safras espetaculares, os estoques de milho estão altos e com a safra americana vai sobrar grão no mundo, o que impacta diretamente no custo de produção, favorecendo as margens da pecuária. Existe ainda o fator Rússia que apesar de sazonal devido à crise enfrentada entre União Européia e Estados Unidos, deve reforçar ainda mais os preços firmes de todas as carnes seja ela de aves, suínos e bovinos.  Os próximos três anos serão muito promissores para a pecuária bovina, os preços se manterão firmes, a demanda mundial tende a crescer, os grãos baratos garantirão margens muito boas ao produtor, cabe ele saber aproveitar esse momento da melhor forma, sem deixar é claro de investir na genética e nutrição de seus animais para conseguir melhores remunerações por uma carcaça de qualidade", finaliza Alexandre.