Uma frente fria trouxe baixas temperaturas e ar seco para o Brasil central nos últimos dias, inibindo a formação de nuvens.
"Chuva definitiva mesmo somente no final de outubro", disse o agrometeorologista Marco Antônio dos Santos, da Somar Meteorologia, nesta quarta-feira.
O clima seco deverá se prolongar pelos próximos dias, acrescentou.
"Há a possibilidade para pancadas de chuvas isoladas neste próximo final de semana sobre o Sudeste e Centro-oeste, contudo, serão muito pontuais e de baixa intensidade, não garantindo que venham a ocorrer sobre as áreas desejadas", disse Santos.
Na avaliação do meteorologista Alexandre Nascimento, da Climatempo, as chuvas de outubro ainda estão dentro de uma média histórica. Mesmo assim, só deverão ganhar força ao fim de outubro.
"Ainda tem chuva neste mês, mas é só nos últimos 10 dias", disse ele.
Após algumas pancadas em Mato Grosso na segunda quinzena de setembro, as chuvas no principal Estado produtor de soja do país cessaram, interrompendo o trabalho de semeadura da oleaginosa, que já havia começado em muitas regiões.
"Agora está todo mundo parado com o plantio. A temperatura está muito alta. A disponibilidade de água no solo é baixa", contou à Reuters o agricultor Emerson Zancanaro, de Nova Mutum, na região central de Mato Grosso.
Segundo ele, muitas das áreas já plantadas ainda devem suportar o estresse hídrico, porque a soja já tem estatura suficiente.
Algumas lavouras, no entanto, onde as sementes ainda não brotaram, podem ter que ser replantadas. "São casos isolados", ponderou.
O plantio em Mato Grosso atingiu cerca de 4,5 por cento da área total projetada até a semana passada, segundo relatório mais recente do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea).
Especialistas dizem que a paralisação dos trabalhos de plantio no Centro-Oeste, no momento, ainda não ameaça o desenvolvimento dentro da janela ideal de clima.
O Brasil deverá colher um recorde de mais de 90 milhões de toneladas de soja este ano, indicam projeções de diversas consultorias.
CAFÉ
O tempo seco dos últimos dias no cinturão cafeeiro do Sudeste do Brasil também tem levado preocupação para o mercado, em um período em que devem começar as floradas que vão gerar os grãos a serem colhidos em 2015.
A cotação do café arábica atingiu esta semana a maior cotação desde janeiro de 2012 na bolsa de Nova York, tendo a falta de chuvas no Brasil como um de seus principais fatores de alta.
Segundo Santos, da Somar, as chuvas nas principais regiões de café deverão retornar a partir do dia 18 de outubro, mas ainda de maneira irregular.
"Enquanto isso, a seca pode fazer um belo estrago", afirmou.
Na terça-feira, a cooperativa Cocatrel, de Três Pontas (MG), disse que o potencial de sua safra de café em 2015 já é 30 por cento menor que o da safra 2013, quando 1,5 milhão de sacas foram colhidas.
A partir de novembro, ressaltou Santos, o quadro deve mudar bastante nas regiões agrícolas do centro do país, que passarão a ter precipitações regulares, com volumes que podem ficar acima da média histórica, devido à ocorrência de um fenômeno El Niño fraco.
"Quando a chuva começar, não para mais. Aí, a probabilidade de novos veranicos (períodos curtos de estiagem) é muito pequena", disse o agrometeorologista.