Publicado em 30/05/2022 20h47

Condições da Rússia para liberar grãos parecem chantagem, dizem analistas

Cerca de 36 países dependem da Ucrânia para mais da metade de suas importações.
Por: Estadão Conteúdo

Os preços do trigo caíram 10% em duas semanas desde que o Ocidente aumentou a pressão para que grãos ucranianos cheguem ao mercado e a Rússia afirmou que poderia liberar envios, caso houvesse a suspensão de sanções impostas a ela. Para Laura Wellesley, pesquisadora de Segurança Alimentar no laboratório do instituto Chatham House, no Reino Unido, a posição da Rússia, porém, soa "como uma simples chantagem" e as condições do mercado "não devem mudar".

Cerca de 36 países dependem da Ucrânia para mais da metade de suas importações de grãos. O principal cliente, de longe, é o Egito, seguido pela Indonésia, Paquistão e Bangladesh. "Será catastrófico se não tivermos os portos da Ucrânia abertos e movimentando suprimentos de alimentos", disse o chefe do Programa Mundial de Alimentos da ONU, David Beasley.

A Rússia ocupou um importante porto ucraniano, Mariupol, e fechou todos os outros por meio do controle naval do Mar Negro, o que prejudicou 10% das exportações mundiais de trigo. À medida que os combates na Ucrânia se recolhem para algumas cidades no Donbas, aumentam os temores de que o bloqueio de grãos possa matar muito mais pessoas do que a própria guerra.

Na avaliação de analistas, mesmo que haja um avanço diplomático para liberar o envio das commodities agrícolas, a comercialização de grãos enfrentaria obstáculos físicos. O principal porto de grãos da Ucrânia, Odessa, enfrenta bombardeios desde o início da guerra. A colheita deste verão no país também pode ser 30% menor em virtude dos conflitos.

A presença de navios de guerra e minas nas proximidades do Mar Negro é outra barreira para transportadores comerciais de grãos e suas seguradoras. Outro ponto importante, na visão de especialistas, é o fato de que, com a oferta da Ucrânia prejudicada, o maior produtor mundial de trigo torna-se a Rússia, que planeja colher uma safra recorde do cereal a partir de junho. Segundo Shawn Hackett, consultor financeiro focado em commodities, os russos estarão dispostos a vender o grão a preços inflacionados pelo bloqueio provocado pelo próprio país.