A crise hídrica que preocupa diversos setores econômicos, inclusive a agricultura, tem estimulado diversos empresários a discutir maneiras para continuar crescendo. No Brasil, no entanto, os alimentos orgânicos registram aumento de 30% ao ano, segundo dados da Organics Brasil. Conforme explica Lissandra Silva Monza, gestora de projetos pelo SEBRAE/RS, a demanda é tanta que faltam produtos para suprir. “Os produtores que atendemos se caracterizam pela produção familiar, então os projetos que oferecemos auxiliam a ordenar o negócio. A mão de obra na agricultura ainda é complicada”, afirma.
São dois projetos, que atendem 180 produtores, executados por meio do programa Juntos Para Competir (FARSUL, SENAR-RS e SEBRAE/RS): um de hortifrutigranjeiros, que atende Porto Alegre e Região Metropolitana, e outro multissetorial, o qual compreende o Vale do Caí. O primeiro iniciou as atividades ano passado e finaliza em 2016. “Nosso objetivo é oferecer consultoria em gestão, prospecção de mercado, bem como cursos técnicos e a participação em feiras e missões, além de desenvolver a questão dos indicadores de desempenho”, explica Lissandra. Na Capital, grande parte dos empreendedores atendidos são de alimentos orgânicos.
É o caso da nutricionista Rosane De Marco, que trabalha com alimentação há 25 anos. A empresária coordena, com o marido e filhos, dois restaurantes, o Poente e o Tobogã, e o Sítio Guabiroba, no bairro Belém Velho, onde produz alimentos livros de agroquímicos. “Participar de atividades de capacitação abriu várias portas, entre elas visitar a Sial, feira de alimentação em Paris, no ano passado, e trocar muita experiência”, relata.
Sobre as dificuldades encontradas no setor, Rosane afirma que a produção de alimentos orgânicos deixou de ser um nicho de mercado há muito tempo. “Para ilustrar isso, basta observar o tamanho da demanda, a qual cresceu tanto que os produtores muitas vezes não conseguem supri-la”, disse. A produção no sítio, especializada em pimentões coloridos, nasceu para suprir o restaurante Poente, há 10 anos, mas logo virou uma grande possibilidade de negócio. “As capacitações técnicas que realizei, mais tarde, fizeram com que eu visse que esse é um mercado em expansão”, ressalta, lembrando que os gargalos existem. “Além da questão da alta demanda, existem poucas empresas de sementes com diversidade de opção e falta fomento governamental”, avalia. Atualmente, a produção dos pimentões atinge entre 800 quilos e uma tonelada por mês.
Sobre a crise da água, Rosane é categórica. “É preciso investir em novas formas de captação. Com a falta de água, o alimento ficará mais caro. Por isso é importante estimular o uso de fontes energéticas alternativas e a reutilização de água da chuva”, sugere. Para o futuro, a empresária destaca que planeja investir na produção de alimentos processados, entre eles compotas e geleias, e também na abertura de um novo restaurante, exclusivo para os apreciadores da culinária vegana.