O Ministério da Agricultura está finalizando um estudo para avaliar os impactos da seca no Sudeste na produção agrícola do país e tentar criar alternativas para evitar o desabastecimento.
Segundo a ministra Kátia Abreu, não deve haver impactos na produção de grãos, mas há preocupação com a produção de verduras e legumes em São Paulo, que pode prejudicar o abastecimento desses alimentos no país. A informação foi anunciada pela ministra ontem, durante entrevista coletiva.
Estamos levantando todo o estoque de alimentos da Conab, a previsão de chuva dos próximos três meses e vamos entregar para a presidente até o final dessa semana um mapa geral antecipado do que poderá faltar nos próximos meses, inclusive pensando no abastecimento e na inflação, afirmou.
PERDAS
Segundo ela, uma das alternativas seria suprir as perdas em São Paulo por outras regiões que poderiam ser estimuladas, como os perímetros de irrigação no Nordeste.
Além disso, em parceria com o Ministério do Meio Ambiente, as pastas vão investir na ampliação de um programa de incentivo à recuperação e preservação das matas ciliares, que contribuem para a absorção de água no solo e podem diminuir o problema da seca.
ENERGIA
Avaliação feita ontem pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) indica que a possibilidade de racionamento poderá afetar a atividade econômica em geral, inclusive o comércio e, por isso, alerta para a necessidade de o governo agir para evitar o pior.
Para o ex-ministro da Fazenda e consultor econômico da CNC, Ernane Galvêas, o intenso calor e a falta de chuvas estão antecipando uma visão de calamidade em relação ao fornecimento de água e de energia elétrica no Sudeste brasileiro, especialmente nas regiões da Grande São Paulo e do Rio de Janeiro.
Para Galvêas, a crise no abastecimento pode ter reflexos em investimentos essenciais à retomada do avanço da economia no país. O consumo per capita de energia elétrica vem subindo aceleradamente desde a crise de 2011, de 1.642 quilowatts-hora (kWh) para 2.461 kWh em 2015, e a crise hídrica na região do Rio Paraíba do Sul está 25% pior do que a maior seca histórica.
ATRASO
Segundo Galvêas, a insegurança quanto ao suprimento de energia pode atrasar a retomada dos investimentos no segundo semestre. Com isso, reduz-se a arrecadação de tributos federais e ficam prejudicados os efeitos da política de ajuste fiscal do Ministério da Fazenda. A tendência é termos no Sudeste um ciclo de estresse hídrico [falta de chuvas] igual ao do Nordeste, disse o ex-ministro da Fazenda. Para ele, o país caminha para a possibilidade de racionamento de energia.
Também o economista-chefe da CNC, Carlos Thadeu de Freitas, destaca a necessidade de uma ação rápida do governo para solucionar o problema. Para ele, a redução do consumo de energia precisa ser estimulada. Ele propõe algum tipo de incentivo” para a compra de geradores por parte dos grandes varejistas e shopping centers.
O presidente do Conselho Empresarial de Turismo e Hospitalidade da entidade (Cetur), Alexandre Sampaio, ressalta que o setor é um dos mais atingidos pela crise hídrica. A crise energética afeta de maneira brutal a rentabilidade dos hotéis e restaurantes brasileiros, diz Sampaio.