O seu impacto, entretanto, conforme estas simulações, não deve ser muito significativo no continente. Um centro de baixa pressão em médios e altos níveis da atmosfera na costa do Sul do Brasil entrará em fase com outro centro de baixa, este em superfície e no litoral do Sudeste, no final desta quinta e na sexta, dando origem a um ciclone. Conforme todas as projeções numéricas, o ciclone avançará para Sul a uma grande distância da costa e se intensificará bastante à medida que a sua pressão central declina. De acordo com estas projeções (vide abaixo modelo WRF/WindGuru), este ciclone até oscilaria (wobble) um pouco para Oeste em direção ao continente na altura do Rio Grande do Sul, mas mesmo assim permaneceria com seu centro distante da costa.
Na fase final de evolução será um ciclone puramente extratropical (estrutura fria no centro), fenômeno comum no Atlântico Sul. Em parte da trajetória, porém, poderá vir a apresentar características subtropicais (centro quente em superfície e frio em altitude), com forte convecção ao redor do seu centro, o que é menos freqüente. Por isso, esperamos alta incidência de raios em torno do centro do ciclone, o que não é a regra em sistemas extratropicais. Algumas simulações em seus perfis verticais da atmosfera chegam a sugerir que em parte da evolução deste sistema ele poderia ser puramente tropical, entretanto estará impulsionando ar mais frio em seu flanco Oeste, fazendo que seja mais provável um sistema subtropical.
Cenário que não pode ser afastado é deste ciclone ser mais intenso em alto mar que o projetado pelo envelope de modelagem numérica, considerando os precedentes de sistemas com características semelhantes no passado (“Previsibilidade de trajetória e intensidade de tempestades e ciclones tropicais na costa brasileira: análise e uso da técnica de ciclones sintéticos” por Fábio Pinto da Rocha e Isimar de Azevedo Santo da UFRJ em CBMET 2010). Há de considerar o oceano muito quente na região com temperatura da superfície do mar em valores muito acima do normal na costa do Sul do Brasil com a atuação da Corrente do Brasil em áreas onde normalmente as águas estariam mais frias em razão da tradicional influência da Corrente dos Malvinas, o que pode levar a uma intensificação maior que a prevista pela parametragem dos modelos globais.
O campo de vento muito intenso (rosca do ciclone) deverá permanecer pelos dados o tempo todo em alto mar, onde a navegação será muito perigosa entre sexta e o domingo, mas se espera aumento da velocidade do vento na costa gaúcha entre amanhã e sábado. O mar ficará mais agitado e com ondas mais altas, não se descartando ressaca, no litoral do Rio Grande do Sul com ondas de até dois metros. Correntes de retorno (rip current) tornarão o banho mais arriscado. Os modelos de ondas são consistentes em indicar que o litoral gaúcho teria as ondas mais altas por conta da tempestade em alto mar.
No sábado, circulação de nuvens e umidade do sistema em alto mar pode induzir instabilidade no Leste gaúcho com a possibilidade de banda de nebulosidade ciclônica atingir a região continental. O sistema, que favorece chuva localmente intensa no Litoral Norte de Santa Catarina e na costa do Paraná, contribuirá para aumentar a instabilidade em estados sob seca como São Paulo, Rio, Minas e Espírito Santo, onde poderá chover muito com tempestades em vários locais. Há risco até de deslizamentos. A atmosfera muito instável com maior vorticidade trará condições ideais até para trombas d’água (tornados no mar) nas costas do Sul e do Sudeste do Brasil, sobretudo com as águas muito quentes. Reitera-se que este sistema, conforme todas as simulações de centros nacionais e mundiais, permaneceria o tempo inteiro em alto mar e a significativa distância da costa. Enfatiza-se que quaisquer comparações com eventos extremos do passado hoje são descabidas diante dos dados que neste momento se dispõe. Os dados têm sido consistentes com pequenas variações entre um modelo e outro nas rodadas, mas o sistema é de grande interesse ante oscilações de trajetórias inerentes aos ciclones.