Publicado em 04/12/2014 10h33

“Nova” Influenza Aviária é ameaça também para o Brasil

Manifesto conjunto da FAO e da OIE divulgado recentemente, alertou que o novo surto de gripe aviária detectado na Europa (e agora também na América do Norte) ameaça todo o setor avícola e acrescenta que os países mais ameaçados “são aqueles com menos recursos localizados em torno do Mar Negro e no Atlântico oriental (leia-se: países africanos da costa Atlântica) e situados na rota de aves migratórias selvagens”.
Por: Avisite

aves

Mas não só eles – seria oportuno acrescentar. Porque, particularmente rigoroso, o Inverno (que apenas se avizinha no Hemisfério Norte) já vem interferindo de forma inesperada nas rotas das aves migratórias. E elas - que são hospedeiras quase naturais do vírus da Influenza Aviária, mas raramente manifestam a doença – podem buscar abrigo em locais também inesperados. Por exemplo, no Brasil.

Há duas portas de entrada de aves migratórias no Brasil: pelo Norte e pelo Sul. Há quase uma década, referindo-se a essas duas portas, Martin Sander, professor e pesquisador da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), observou que, pelo Norte, as aves chegam às Américas e ao Brasil através do Alasca. Mas como passam primeiro pelo Canadá e EUA, a eventual presença do vírus pode ser previamente detectada. Ou seja: neste caso o Brasil recebe um “aviso prévio”.

Não é, porém, o que ocorre com a “porta Sul”, considerada por Sander a mais perigosa: “Pois só saberíamos da chegada do vírus quando ele estivesse em território nacional”.

O alerta do Professor da Unisinos foi levantado em 2006, durante audiência pública promovida pela Câmara dos Deputados para debater os possíveis efeitos de uma eventual chegada do vírus da Influenza Aviária ao País. Então, a avicultura brasileira sofria (amargamente) com a crise da doença ocorrida em inúmeras partes do Hemisfério Norte.

Naquela audiência, Martin Sander defendeu que o Brasil aproveitasse seu programa antártico para desenvolver um “estudo minucioso sobre as aves migratórias que vêm daquela região”. E seu posicionamento foi ouvido, pois a monitoria de aves migratórias para a Influenza Aviária passou a integrar as atividades de pesquisa científica desenvolvidas na base militar brasileira Comandante Ferraz, montada na Antártida. O “x” da questão é que, em 2012, a base militar foi destruída por um incêndio. E, desde então, não há indicações de que suas atividades de pesquisa tenham tido continuidade.

O perigo, pois, permanece latente. E aumenta na medida em que cresce no País a criação de anatídeos (patos, marrecos, gansos) – aves que, como as aves selvagens, hospedam quase naturalmente o vírus da Influenza Aviária. Sem (na maioria das vezes) manifestar a doença, mas permanecendo como potenciais disseminadores do vírus para outras espécies aviárias.

Por tudo isso, ainda que os atuais casos de Influenza Aviária aparentem estar distantes da avicultura brasileira, vale incrementar ou adotar as recomendações prescritas pela FAO e OIE, a saber:

- Aumentar a vigilância sanitária visando à detecção precoce não só do H5N8 (cepa predominante no atual surto), mas também de outras cepas virais da Influenza Aviária;

- Manter e reforçar os serviços veterinários, garantindo que estejam aptos a propiciar rápida resposta aos desafios do gênero;

- Reforçar as medidas de biossegurança nas granjas avícolas, dedicando-se particular ênfase à minimização do contato entre aves domésticas e aves selvagens;

- Sensibilizar caçadores e outros indivíduos que estejam em contato direto com a natureza para que informem, imediatamente, a descoberta de aves selvagens doentes ou mortas.

Ainda a propósito, o comunicado conjunto FAO/OIE ressalta que “o surgimento de uma nova estirpe do vírus é, para o mundo, incisivo lembrete de que os vírus da gripe aviária continuam a evoluir, emergindo com potenciais riscos para a saúde humana, a segurança alimentar e nutricional, a subsistência dos avicultores e a economia dos países produtores”. Daí a recomendação para que a vigilância seja reforçada e que os esforços visando à detecção e o controle recebam investimentos e sejam mantidos e ampliados.

Notar, ainda, que é redundante chamar o atual surto de “nova” Influenza Aviária. Qualquer manifestação do vírus da Influenza – e não só das aves, mas também do homem e de outras espécies animais – decorre de uma cepa viral modificada em relação às anteriores. Não fosse assim, as campanhas anuais de vacinação para a gripe humana seriam dispensáveis. 

Por essa razão, a luta e a vigilância contra a doença devem ser permanentes, não permitem tréguas.