Publicado em 20/04/2017 16h38

Guerra comercial com EUA abre oportunidades para América do Sul no México

Obstáculo a vencer é o preço da logística
Por: Agrolink

A administração do presidente Donald Trump têm criticado acordos de livre comércio e o que chama de “práticas injustas” supostamente vindas do México que estariam prejudicando o complexo industrial dos Estados Unidos. No entanto, consequências indesejadas já tem sido percebidas na economia norte-americana e o setor mais afetado é o agronegócio.

O México, um dos maiores compradores de alimentos dos Estados Unidos, têm anunciado a busca de novas fontes de fornecimento justamente nos grandes concorrentes. A ideia é diminuir as compras dos vizinhos do norte mesmo antes de qualquer tipo de mudança no Tratado de Livre Comércio da América do Norte (Nafta).

A Argentina tem negociado a entrada de ovos frescos. Diplomatas mexicanos já anunciaram a autorização de futuras importações de arroz brasileiro. A Argentina tenta liberar os seus limões e outros sucos para mesas mexicanas. Trazer carne bovina de ambos países sul-americanos também está sendo considerado, mas uma questão permanece: a Argentina e o Brasil serão capazes de suprir milho e soja para o México substituindo os Estados Unidos?

Os mexicanos já dizem que o milho sul-americano será livre de sobretaxas, informa reportagem do Portal Agriculture.com assinada pelo correspondente do site na América do Sul, Luis Vieira.

Tom Sleight, presidente e CEO do Conselho de Grãos dos Estados Unidos, acredita que os Estados Unidos ainda tem vantagem logística significativa. Os envios para o México são feitos por caminhão, navio e trens – muito mais baratos se comparados aos congêneres sul-americanos. Ele admite, porém, que algum dano já ocorreu para as exportações agrícolas americanas.

“Nós ainda temos que esperar para saber o que vai acontecer. Nós temos falado todos os dias com a administração Trump sobre estes riscos e tenho certeza que eles têm entendido esses riscos. É possível que nos próximos anos o México compre milho de outras fontes”, contou Sleight ao Agriculture.com.

Um operador da Cargill na Argentina não vê muita possibilidade para que o país venda milho ao México: “Um terço das compras mexicanas vêm dos Estados Unidos por linha férrea, tornando muito difícil competir por via marítimas”. Por outro lado, alguns dizem que a Argentina tem um potencial de exportar mais grãos ao México com a redução dos custos internos de transporte pela reativação de velhos modais de transporte.

“A Argentina vendeu muito sempre três produtos básicos: milho, sorgo e soja. Os volumes enviados à América do Norte eram muito altos até a assinatura do Nafta. Não estaria tão seguros que, com a volta das tarifas, nós não seríamos competitivos”, analisou Gustavo López, diretor da consultoria AgriTrend de Buenos Aires.

O Brasil espera colher um volume de 100 milhões de toneladas de milho neste ano, se o clima ajudar. Apesar da colheita da safrinha estar distante, especialistas enxergam um grande potencial no México.

“O México deve dar preferência à expansão dos volumes de compras do Brasil, incluindo grãos e carnes”, assinalou o professor Marcos Fava Neves da Escola de Negócios da Universidade de São Paulo, um especialista em agronegócios.