Publicado em 02/10/2014 19h13

Indígenas de Amambai se tornam empreendedoras após qualificação do Senar

O que antes era dedicação exclusiva aos cuidados da família ou colaboração com as atividades do marido no cultivo de hortaliças deu espaço para o empreendedorismo, novas expectativas e a possibilidade de autonomia financeira. Após participar de projetos desenvolvidos pelo Senar/MS – Serviço Nacional de Aprendizagem Rural, Sindicato Rural e AMA – Associação de Mães de Amambai, 45 indígenas guarani kaiowá das aldeias Limão Verde e Amambai estão reescrevendo suas histórias.
Por: Sernar-MS


Já tradicional na capacitação de mulheres para o mercado de trabalho em Amambai, com atividades realizados de 1979, a AMA decidiu há cerca de um ano investir nas aldeias da região. A partir de julho de 2014 passou a contar com a parceria do Senar/MS e Sindicato Rural, que juntos levaram até a Aldeia Limão Verde o programa ‘Com Licença, Vou à Luta’, com foco no fomento do empreendedorismo feminino e ainda o curso de produção artesanal de produtos de limpeza. Os resultados superaram as expectativas dos idealizadores da ação. “Quando pensamos em levar cursos a essas mulheres, queríamos algo que respeitasse a realidade delas e colaborasse para o desenvolvimento da comunidade. Encontramos pessoas extremamente interessadas e com vontade de aprender”, recorda a secretária da AMA, Vilma Maria Golin Felhorst.
 
O fomento ao empreendedorismo incentivou ideias até então inovadoras para a comunidade indígena local e fez surgir a primeira cooperativa de mulheres, denominada Cooperativa Aldeia Limão Verde, com 15 cooperadas, especializadas na fabricação de sabão artesanal. As atividades estão previstas para iniciarem nos próximos dias. A princípio, a comercialização ocorrerá entre as aldeias, mas a expectativa é de ampliação na geração de renda. “Unimos o que aprendemos nas duas qualificações. Um curso ensinou investir e o outro a fabricar sabão e outros produtos. Já estamos vendendo dentro da aldeia, mas vamos aumentar usando tudo o que aprendemos”, relata Damiana de Souza, que aos 54 anos iniciará seu trabalho no grupo de mulheres.
 
A supervisora regional do Senar/MS, Verônica Guglielmi, reforça que o objetivo da realização de cursos e programas de qualificação nas aldeias é promover a inclusão social. “Através do Com Licença Vou à Luta, as mulheres reconheceram suas habilidades de gestão, criando uma visão empreendedora, para que elas possam trazer renda às suas famílias através da venda de seus produtos com matéria-prima extraída da própria aldeia”, relata Verônica. 
 
A supervisora considera ainda que a qualificação refletiu diretamente no trabalho realizado pelos companheiros das indígenas. “As alunas começaram a diagnosticar a necessidade dos homens se qualificarem, percebendo até mesmo que os cursos mais adequados seriam os de controle de formiga e cultivo de mandioca”, revela.
 
O mobilizador do Senar/MS no Sindicato Rural de Amambai, Olguimar Andrade, percebe a mudança na realidade social das aldeias após as qualificações. “Essas capacitações incentivam a inserção de grupos no mercado de trabalho, além de levar motivação aos indígenas, se tornando suporte para o amplo desenvolvimento”, considera Andrade, que destaca que mais uma aldeia acaba de ser qualificada pelo Senar/MS e Sindicato Rural. “A Aldeia Amambai encerrou há alguns dias o curso de Corte e Costura com ótimos resultados. Mais uma vez foi possível verificar o quanto as capacitações são bem aproveitadas nas comunidades”, finaliza.
 
Outras qualificações devem ocorrer nas aldeias, já que as indígenas demonstraram interesse em diferentes cursos da grade do Senar/MS. “Eles pediram o curso de cultivo de plantas medicinais e preparo de medicamentos caseiros, atividade bastante ligada à cultura local”, destaca a supervisora regional, Verônica Guglielmi. 
 
A identificação das participantes com a iniciativa pode ser observada no último domingo (28.09), quando um grupo de mulheres do programa Com Licença, Vou à Luta participou do desfile comemorativo ao aniversário de Amambai. Mesclando vestes características indígenas e as camisetas do programa, elas expuseram também peças confeccionadas a partir do que aprenderam com as qualificações.