Publicado em 28/09/2016 16h23

Brasil deve acelerar inovação no médio e longo prazo, promete Bayer

Empresa reforça perspectiva de apresentar “conjunto otimizado” de soluções a partir da aquisição da Monsanto
Por: Raphael Salomão

A Bayer promete acelerar a inovação e oferecer um “conjunto otimizado” de soluções para o mercado brasileiro a partir da união com a norte-americana de biotecnologia Monsanto. Foi o que informou, em nota, a direção da empresa na Alemanha, respondendo questões enviadas por e-mail pela Globo Rural na ocasião do anúncio do negócio.

“A médio e longo prazo, a empresa combinada será capaz de acelerar a inovação e oferecer aos clientes soluções avançadas e um conjunto de produtos otimizado, com base em uma visão agronômica analítica e apoiado por aplicações da agricultura digital”, diz o comunicado, sem mais detalhes. A exemplo da estratégia traçada em nível global, os planos, de forma geral, devem conjugar produtos e ferramentas de tecnologia que visam melhorar a eficiência no campo.

Anunciada no dia 14 de setembro, a aquisição da Monsanto foi fechada por US$ 66 bilhões (US$ 128 por ação). Uma semana antes, durante conferência global em sua sede, em Leverkusen (Alemanha), a Bayer detalhou um plano de investimentos de 2,5 bilhões de euros em estruturas na divisão Crop Science. Os recursos devem ser aplicados entre os anos de 2017 e 2020, junto com outros aportes, por exemplo, em pesquisa e desenvolvimento.

Nas respostas enviadas à reportagem, a companhia alemã negou que o anúncio já considerasse um cenário de fusão com norte-americana de biotecnologia. “É prematuro discutir até que a aquisição esteja concluída. Por enquanto, a Bayer vai continuar com seus planos de investimento.” A expectativa é de conclusão até o final de 2017. Até lá, ambas atuarão de forma independente enquanto a operação é aprovada por acionistas e avaliada por autoridades regulatórias.

Brasil

O Brasil é importante na estratégia das duas empresas. Para a Monsanto, representou 11% do faturamento total registrado no ano passado, que foi de US$ 15 bilhões. No site criado especialmente para detalhae a aquisição, a Bayer não revela o valor dos negócios no país. Informa apenas que, junto com África e Oriente Médio, a América Latina, que tem o mercado brasileiro como líder, representou 29% da receita em 2015.

A nova safra brasileira (2106/2017), em fase inicial de plantio, foi precedida por uma temporada marcada por fortes perdas em regiões importantes, devido a problemas climáticos. Além do efeito negativo do resultado sobre as finanças, os agricultores terão menos crédito subsidiado pelo governo neste ciclo agrícola, iniciado em julho.

Do lado da Bayer, o chefe global de operações comerciais agrícolas, Marc Reichardt, afirmou recentemente que os investimentos no país tendem a ser mantidos. Em entrevista a jornalistas latino-americanos no início deste mês, durante a conferência global da empresa, em Leverkusen,disse esperar que o agricultor brasileiro privilegie a produtividade em detrimento da ampliação da área.

Uma das principais apostas da multinacional no país para esta safra é a soja Liberty Link (LL), apresentada comercialmente em março deste ano. O desenvolvimento da tecnologia, implantada em 11 cultivares, levou quase 10 anos.

O lançamento dependia apenas da aprovação pelas autoridades nacionais do glufosinato de amônia, herbicida contra o qual a tecnologia apresenta resistência. A Bayer não informa a expectativa de utilização das sementes LL no país neste ano. O plantio experimental foi feito em cerca de 600 propriedades brasileiras.

Embora a companhia trabalhe para direcionar um discurso positivo ao mercado e aos produtores, o negócio biblionário não é unanimidade. Em conjunto com a Monsanto, a Bayer passará a dominar duas das tecnologias de sementes transgênicas largamente utilizadas no mundo, uma situação que preocupa algumas lideranças do setor agrícola no Brasil.