Pesquisadores brasileiros realizaram o primeiro estudo abrangente sobre as doenças da macadâmia no país, identificando as principais ameaças à cultura e propondo soluções para o manejo. A pesquisa, conduzida pela Embrapa Meio Ambiente (SP) em parceria com a Universidade Estadual Paulista (Unesp) e a empresa QueenNut Macadâmia, analisou amostras coletadas no município de Dois Córregos (SP) ao longo de dois anos, revelando dados inéditos sobre a incidência de doenças e os agentes causais, um passo crucial para o desenvolvimento da cultura no Brasil.
Bernardo Halfeld, pesquisador da Embrapa que atuou nesse estudo, relata que o trabalho teve início em agosto de 2018, motivado pela necessidade de conhecer as principais doenças que afetavam a cultura e as práticas mais adequadas de controle e prevenção. “As referências sobre as doenças que ocorriam na cultura eram baseadas principalmente nos relatos de outros países que cultivam macadâmia, o que muitas vezes levava à adoção de medidas não eficientes de controle”, relembra o pesquisador, destacando a importância de um estudo específico para as condições brasileiras.
Doenças como a queima dos racemos e a podridão do tronco foram apontadas como as mais preocupantes, com potencial para causar perdas significativas na produtividade. Além disso, os pesquisadores relataram pela primeira vez no mundo os fungos Cladosporium xanthochromaticum e Colletotrichum siamense como causadores de doenças na macadâmia, ampliando o conhecimento sobre os patógenos que afetam essa cultura.
Principais Doenças Identificadas:
Queima dos Racemos: Causada pelo fungo Cladosporium xanthochromaticum, essa doença afeta a planta durante o período de floração, podendo reduzir drasticamente a produtividade. É facilmente reconhecida no campo por causar queima nas estruturas florais e um crescimento fúngico aveludado, de cor verde-olivácea. Para o manejo, os pesquisadores recomendam a eliminação de restos de flores de safras anteriores e a poda para aumentar a ventilação da copa, reduzindo a umidade e as condições favoráveis para o progresso da doença.
Podridão do Tronco: Provocada pelo fungo Lasiodiplodia pseudotheobromae, essa doença forma cancros no tronco e pode levar à morte de plantas jovens em casos severos. Para o manejo, é recomendada a remoção de galhos afetados, a proteção de ferimentos com produtos protetores à base de cobre e a poda em estações menos propícias à doença, como outono e inverno.
Antracnose em Frutos: Causada pelo fungo Colletotrichum siamense, a antracnose provoca manchas necróticas nos frutos, impactando a qualidade e a produtividade. O manejo deve ser feito com a remoção de frutos infectados, o controle de insetos que possam causar lesões na planta e a ventilação adequada do dossel.
Mancha Foliar: Embora menos severa, a mancha foliar, atribuída ao fungo Neopestalotiopsis clavispora, pode causar manchas pontuais em folhas. Por apresentar baixos danos, não foi considerada preocupante até o momento, mas o manejo destaca melhorias nas condições de ventilação do dossel.
O estudo liderado pela Embrapa não apenas identificou as principais doenças da macadâmia no Brasil, como também propôs estratégias práticas para os produtores. A correta identificação das enfermidades e a adoção de medidas de manejo são essenciais para mitigar os impactos das doenças, promover a sustentabilidade da produção e fortalecer a presença brasileira no mercado global. Para isso, a Circular Técnica detalha as características de cada enfermidade e recomenda que os produtores fiquem atentos aos sintomas.
O conhecimento da biologia dos fungos identificados e informações como a faixa de temperatura ideal para o desenvolvimento de cada patógeno, permitem que recomendações de controle envolvendo práticas culturais possam ser adotadas para o controle de cada doença. Além disso, ensaios de laboratório descobriram para quais grupos químicos os principais patógenos são sensíveis, considerando os já permitidos no Brasil para o controle da antracnose na cultura.
As condições climáticas brasileiras oferecem desafios e oportunidades únicas. Ajustes no manejo, como podas regulares e uso criterioso e somente quando necessário de defensivos agrícolas, são cruciais para minimizar perdas e ampliar a produtividade. Além de prevenir e controlar essas doenças, os pesquisadores esperam que o trabalho ajude também na prevenção da entrada de patógenos exóticos nas plantações brasileiras de macadâmia, o que pode ser obtido com monitoramento e adoção de medidas de exclusão.
Com o manejo adequado, a cadeia produtiva da macadâmia no Brasil tem o potencial de se tornar mais competitiva e sustentável, atraindo novos investimentos e gerando benefícios para toda a indústria agrícola. A produção brasileira de macadâmia, apesar de representar apenas 2% da produção global, está em expansão. Concentrada nos estados de São Paulo, Espírito Santo e Minas Gerais, a cultura ocupa cerca de 6 mil hectares e tem potencial para crescer com o manejo adequado das doenças.
A produção mundial de macadâmia atingiu 78.415 toneladas em 2022, liderada pela África do Sul, Austrália e China. Embora o Brasil esteja no oitavo lugar do ranking global, quase toda a produção é consumida internamente como matéria-prima para produtos de panificação, chocolates, sorvetes e drageados, evidenciando o mercado promissor. O cultivo de macadâmia no Brasil enfrenta desafios significativos, mas o avanço nas pesquisas e o suporte técnico podem consolidar sua posição no mercado global. A macadâmia, classificada como Cultura de Suporte Sanitário Insuficiente, pode se beneficiar de produtos fitossanitários já utilizados em outras culturas de nozes e castanhas.
Para saber mais sobre macadâmia, veja a publicação técnica: Produtores e interessados podem ter mais informações na Circular Técnica 33 - Identificação e recomendações de manejo de doenças da macadâmia, assinada por Bernardo de Almeida Halfeld-Vieira, Kátia de Lima Nechet, pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente; Marcos Giovane Pedroza de Abreu, estudante de doutorado da Unesp e Leonardo Massaharu Moriya, gestor geral da QueenNut Macadâmia, pode ser acessada aqui. Esta publicação está de acordo com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 12 - “Consumo e Produção Responsáveis”, reafirmando o apoio da Embrapa para o alcance das metas estabelecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU). Parte do trabalho também foi divulgada neste artigo publicado na revista Australasian Plant Pathology.