Em um cenário global cada vez mais focado em soluções sustentáveis, o Brasil se destaca como uma potência em energia renovável. Com uma matriz energética diversificada e uma vasta capacidade de produção de energia limpa, o país lidera a transição energética, um movimento irreversível em direção a um futuro mais sustentável. No mundo dos negócios, essa mudança é uma oportunidade onde o mercado premia aqueles que se antecipam. Em entrevista, o engenheiro agrônomo João Pedro Cuthi Dias aborda a contribuição da agricultura brasileira nesse processo.
De acordo com João Pedro Cuthi Dias, "o Brasil tem tudo para ser o grande motor do processo de descarbonização. Hoje, consumimos 102 milhões de barris de petróleo por dia, tanto para transporte quanto para energia. Para motores de combustão, o Brasil já criou o etanol, que hoje tem uma participação expressiva como fonte de combustível para carros com motor a explosão. Estamos evoluindo ano após ano nessa área, aumentando a produtividade da cana e proibindo a queima da cana, o que deixa a palha no solo. Já chegou o etanol de segunda geração, que transforma parte dessa palha em etanol. O Brasil vem avançando constantemente nessa área."
João Pedro Cuthi Dias destaca ainda o potencial do Brasil na produção de biodiesel e querosene de aviação a partir de oleaginosas. "Temos um campo fantástico no Brasil, especialmente com a soja, nosso carro-chefe, com 45 milhões de hectares plantados anualmente. Após a colheita, parte dessa soja vira milho, trigo, centeio, aveia, canola, etc., mas ainda sobra área que pode ser usada para produzir oleaginosas para combustíveis alternativos, como diesel verde e querosene de aviação. Com programas de estímulo e garantia de compra pelas indústrias, podemos aproveitar ainda mais. Por exemplo, o sebo animal dos frigoríficos está sendo aproveitado tanto para consumo interno quanto para exportação, especialmente para os Estados Unidos, que é um grande consumidor de combustíveis fósseis. O Brasil tem tudo para liderar esse processo, basta organizar as cadeias produtivas e estimular a pesquisa e extensão rural."
Questionado sobre os desafios enfrentados pelo setor para se adaptar e integrar ainda mais as fontes de energia renovável, João Pedro Cuthi Dias foi enfático: "O Brasil tem sol e vento em abundância, podendo ser um grande produtor de hidrogênio verde, uma alternativa energética que vai substituir o carvão na produção siderúrgica. Podemos transformar minério de ferro em produtos de maior valor agregado usando menos carvão, o que seria um avanço significativo, já que o carvão é extremamente danoso ao meio ambiente. No entanto, precisamos de uma legislação que estimule a produção de energia eólica e fotovoltaica para gerar hidrogênio verde. O mundo precisa de alternativas para descarbonização, seja para substituir o gás natural, seja para eliminar ou reduzir significativamente o uso do carvão nos processos industriais."
João Pedro Cuthi Dias também ressaltou a necessidade de organizar o setor e garantir a compra por parte da indústria. "Falta organizar as cadeias produtivas nas demais oleaginosas, como crambe, bocaiuva e carinata, entre outras. É preciso garantir a produção de sementes, investir em pesquisa e extensão rural, e criar um conjunto de ações que gerem novas oportunidades de trabalho e renda no setor rural, além de promover a descarbonização da energia tanto no transporte quanto na geração de energia."