Logo após dar início, oficialmente, à colheita da noz-pecã no Rio Grande do Sul os produtores se viram em meio a um dos mais severos desastres climáticos já ocorridos em solo gaúcho. Nas diversas cidades por onde a pecanicultura se desenvolve, diferentes danos estão sendo contabilizados pelo Instituto Brasileiro de Pecanicultura (IBPecan), que congrega mais de 100 associados em dois terços da área cultivada e 90% das indústrias de processamento da fruta.
Conforme o presidente do IBPecan, Eduardo Basso, a área plantada de nozes-pecã no Brasil é da ordem de 10 mil hectares, sendo que 70% é em território gaúcho. A produção está distribuída em 215 municípios, somando 1,5 mil famílias dedicadas à produção, com grande concentração de pequenos e médios produtores, notadamente nos Vales dos rios Taquari e Rio Pardo, duas das principais regiões afetadas pelas cheias. A colheita envolve mais de mil pessoas, que sofrem com a interrupção na atividade. “A partir da base de informação, podemos afirmar que 81% dos pomares (175) tiveram reconhecidos seus estados de Calamidade (45) ou Emergência (130). Eles representam 89% da área total cultivada com nogueiras e 85% do total de produtores”, afirma o presidente.
Com objetivo de quantificação das perdas, foi realizada pelo Instituto pesquisa entre seus associados. O resultado espelha uma perda econômica expressiva em toda a cadeia, seja na produção propriamente dita, seja na parte estrutural dos pomares, seja nos próprios ativos patrimoniais, seja nos processos de beneficiamento e comercialização. “Além da perda de 80% da produção da safra de 2024, no caminho da destruição encontramos casas, galpões, estradas, infraestrutura de irrigação e áreas de produção ainda a serem colhidas. Os produtores retratam a dura realidade: “não vale a pena colher”, “rompimento de barragem e casa das bombas”, “qualidade baixa das nozes”, “início da germinação dentro da casca”, “queda dos frutos prontos e perdas pelas enxurradas”, “depois das perdas com o excesso de chuvas na polinização, agora vem a chuvarada”. São fotografias da tragédia, lamenta Eduardo Basso.
As indústrias também apresentaram suas perdas ao IBPecan com custos adicionais pela interrupção das atividades. Também foram impactadas pela variabilidade na qualidade do produto recebido dos produtores, o que onera os custos de beneficiamento. Somam-se dificuldades logísticas acentuadas pelas perdas de pontes e estradas, com riscos à interrupção nos contratos com clientes nacionais e internacionais. Mas, o presidente do Instituto alerta que, como se trata de um levantamento preliminar, estima-se que este impacto será de fato bem maior. “À medida em que os prejuízos forem sendo consolidados, há também os intangíveis, como os danos à auto-estima do produtor e a sua motivação para continuar a produzir alimentos de qualidade”, destaca.
Além de contabilizar as perdas, o IBPecan está elaborando um documento que deverá ser entregue às autoridades em reunião virtual na próxima semana. O instituto quer demonstrar os danos para produtores e indústria e solicitar apoio para a reconstrução.