Os resultados de um estudo inédito conduzido por pesquisadores da Embrapa, iniciado em 1984, começam a chegar aos agricultores de todo o país com a proposta de resolver o problema da lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda), principal praga do milho e que é capaz de reduzir a produção dessa cultura em mais de 50%.
Na tendência do mercado brasileiro de defensivos biológicos, que registrou alta de 45% nos últimos cinco anos, o novo biodefensivo é fruto de parceria público-privada entre a Embrapa Milho Sorgo e a empresa brasileira Life Biological Control.
Registrado comercialmente com o nome de Destroyer, o microbiológico tem, na sua formulação exclusiva, um vírus que infecta a praga sem trazer riscos à saúde humana ou ao meio ambiente. Isso porque a sua base é um baculovírus, que causa a morte somente do alvo desejado, sem prejudicar plantas, animais e outros microrganismos.
Desde o início do processo de isolamento do vírus há 40 anos, a equipe de pesquisadores da Embrapa coletou a campo, cerca de 14 mil lagartas para análise, em um trabalho inédito coordenado pelo pesquisador Dr. Fernando Hercos Valicente, da Embrapa Milho e Sorgo (MG). “O fruto desse trabalho resultou em cerca de 22 isolados de baculovírus. Alguns deles foram repassados para empresas que aprimoram e desenvolvem uma formulação exclusiva. No caso específico do isolado de vírus 6-NR, ele apresenta uma característica única de não causar a liquefação do tegumento imediatamente após a morte das larvas, a Life desenvolveu uma formulação específica para esse isolado, que determina o tempo de prateleira do produto e mantem a eficiência do material”, destaca o pesquisador da Embrapa.
A partir disso, os especialistas em baculovírus da Life Biological Control trabalharam para transformar o vírus em um produto, na forma de pó, com ação altamente eficaz sobre a lagarta-do-cartucho e adaptado à realidade das lavouras brasileiras, conforme explica Cristiane Tibola, CEO da Life Biological Control.
“Foram quatro anos de muita pesquisa e extrema dedicação até chegar num produto que não só controla e protege, mas que previne os danos da lagarta-do-cartucho nas lavouras”, afirma Cristiane, que também é cientista e doutora em Entomologia pela ESALQ/USP. Ela completa: “A grande vantagem desse produto biológico, também chamado de biodefensivo, é que ele não afeta o meio ambiente, não intoxica aplicadores, não mata os inimigos naturais das pragas (insetos benéficos), não polui rios e nascentes e não deixa resíduos nos alimentos a serem vendidos nos supermercados, contribuindo para uma melhor sustentabilidade e melhor qualidade do produto disponibilizado para os consumidores”.
Com sólida experiência técnico-científica em pragas agrícolas, principalmente com controle biológico, controle químico, biotecnologia e manejo integrado de pragas, Cristiane aponta que o grande diferencial do biodefensivo Destroyer passa pela origem da matéria-prima. “Esse isolado de vírus, evoluiu e se adaptou para controlar a Spodoptera frugiperda, com as características específicas das lagartas que ocorrem aqui no Brasil, que possui um clima tropical, totalmente favorável para a sua multiplicação e propagação. O resultado é uma maior eficiência e respostas muito melhores em campo. Além disso, a formulação WP (pó molhável) possibilita fácil diluição no momento da aplicação e não precisa ser refrigerado, assim com maior tempo de prateleira o agricultor consegue mantê-lo em boas condições até o momento da utilização”.
Cristiane Tibola detalha a ação do baculovírus. “Entre cinco e sete dias após a ingestão do baculovírus, a lagarta morre e reinfecta naturalmente as plantas ao redor e, por consequência, também alimentará outras lagartas. Além disso, o produto é seletivo somente para a lagarta, sem afetar os seus inimigos naturais. Dessa forma, os insetos predadores conseguem sobreviver e ajudam no controle natural da praga. É um ciclo interessante e totalmente de acordo com uma tendência global de sustentabilidade”.
Para o pesquisador e coordenador da área de Desenvolvimento de Produtos biológicos da Life, Gabriel Nunes, é justamente essa tendência mundial da atividade agrícola que oferece uma boa perspectiva para o mercado de insumos biológicos.
“O Brasil é um país tropical e que graças as suas características, nos possibilita três safras durante o ano. Entretanto, este fato acaba criando uma espécie de "ponte verde" para os insetos praga, causando um aumento da sua incidência no campo e gerando populações cada vez mais resistentes a inseticidas químicos e tecnologias OGM. Por isso, o mercado de insumos biológicos tem despontado, o mundo, a agricultura e os próprios produtores, tem exigido cada dia mais produtos sustentáveis, e que utilizam o próprio poder da natureza para propiciar o controle de pragas agrícolas, como é o caso do baculovírus”, finaliza.