Publicado em 30/04/2024 22h43

Piscicultura venceu adversidades e cresceu 3,1% em 2023

Levantamento da Peixe BR aponta avanço inferior à média dos anos anteriores, mas em bom nível devido a problemas climáticos e sanitários
Por: Redação

O Brasil produziu 887.029 toneladas de peixes de cultivo em 2023, com crescimento de 3,1% sobre o resultado do ano anterior (860.355 toneladas), aponta levantamento exclusivo da Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR), entidade que reúne, fomenta, defende e valoriza a cadeia produtiva. 

“Indiscutivelmente, 2023 foi um ano de desafios. Tivemos estados que foram mais prejudicados que outros devido às questões climáticas e também sanitárias. De qualquer forma, o resultado foi positivo, em que pese as adversidades. A piscicultura brasileira continua em crescimento, posicionando-se com cada vez mais relevância na vida dos brasileiros”, ressalta Francisco Medeiros, presidente executivo da Peixe BR. 

A tilápia participou com 579.080 toneladas (65,3% do total), os peixes nativos contribuíram com 263.479 toneladas (29,7% do total) e as outras espécies (carpa, truta e pangasius) atingiram 44.470 toneladas (5% do total). 

O Paraná ampliou a liderança em produção, assim como a região Sul mantém-se à frente, já representando 1/3 do total nacional. Nas próximas páginas, detalhamos as estatísticas por estados, por regiões e por espécies. 

A estatística de produção de peixes de cultivo da Peixe BR completa 10 anos (2014 a 2023), mesmo tempo de existência da entidade. Nesse período, o cultivo saltou de 578.800 toneladas para 887.029: +53,25%. A média de crescimento anual é bastante expressiva: 5,325%. 

Considerando que as exportações ainda são pouco representativas – apesar de em crescimento –, o aumento da oferta representa elevação direta do consumo interno. Atualmente, o brasileiro consome 4,35 kg de peixes de cultivo por ano. “A produção nacional avança com consistência. Todos os estados brasileiros produzem peixes de cultivo, seja tilápia, nativos ou outras espécies. O país tem clima propício, potencial hídrico para multiplicar o cultivo atual algumas vezes e dimensões continentais. Puxada pela tilápia, a piscicultura brasileira tem representatividade crescente”, enfatiza Francisco Medeiros. 

2023 foi caracterizado por problemas climáticos e sanitários, mas também por preços firmes ao produtor, como aponta o Indicador de Preço da Tilápia, medido pelo CEPEA/USP.

As exportações também cresceram. No total, o país comercializou 6.815 toneladas de peixes de cultivo – com liderança expressiva da tilápia – e receita de US$ 24,7 milhões. Esse resultado é 4% superior ao obtido em 2022, como mostra o relatório da Embrapa Pesca e Aquicultura, elaborado para a Peixe BR.

 

TILÁPIA: INTERESSE DOS CONSUMIDORES PUXA PRODUÇÃO NO BRASIL 

A tilápia torna-se, cada vez mais, um peixe presente no cardápio em todas as regiões. Avança a demanda interna, abrem-se oportunidades de exportação e investidores profissionais juntam-se ao negócio. 

A tilápia ampliou a participação na produção brasileira de peixes de cultivo, em 2023, com 579.080 toneladas – crescimento de 5,28% em relação ao ano anterior – mostra levantamento da Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR). Com esse resultado, a espécie passou a representar 65,3% do total nacional. No ano anterior, o país colocou no mercado 550.060 toneladas (63,93% do total). 

“A tilápia ganha participação no mercado devido ao interesse crescente dos consumidores. A piscicultura responde com maior produção. A espécie já está presente nos cardápios de todo o país – mesmo na região Norte, onde não é cultivada. Contribui para o aumento da produção – e da demanda – a qualidade da tilápia brasileira, indiscutivelmente uma das melhores do mundo em termos de sabor, suculência e saudabilidade”, ressalta Francisco Medeiros, presidente da Peixe BR.

Nos últimos dez anos, a produção de tilápia no Brasil saltou de 285 mil toneladas para 579 mil toneladas. O aumento foi de 103%. “É a proteína animal de maior crescimento no país no período. A partir da liberação de cultivo em mais estados, a tilápia tem no Brasil o ambiente ideal para alcançar alta produtividade”, complementa o dirigente. 

O Paraná lidera o cultivo de tilápia no país, com 209.500 toneladas, constata a Peixe BR. A produção no estado cresceu 11,5% em relação a 2022 (187.800 toneladas). Em seguida vem São Paulo (75.700 toneladas, mas a produção local caiu 2% em 2023. Entre os cinco maiores estados produtores, destaque para Minas Gerais (58.200 toneladas), que teve aumento de 12,6%. O Brasil é o quarto maior produtor mundial de tilápia, atrás de China, Indonésia e Egito.

 

PEIXES NATIVOS: POTENCIAL IMENSO. VELHOS PROBLEMAS 

Faltam planos de negócios eficazes para retomar o crescimento desse segmento essencial para a piscicultura brasileira. 

O Brasil produziu 263.479 toneladas de peixes nativos, em 2023. Esse desempenho é 1,3% inferior ao ano anterior (267.060 toneladas). Com esse total, o segmento representa agora 29,7% da produção total do país. 

“Não se pode dizer que o resultado do cultivo de peixes nativos no ano passado foi positivo, mas também não foi tão negativo. O resultado foi impactado por problemas de fora da cadeia produtiva. Falta atenção maior das autoridades estaduais, que precisam priorizar essa atividade tão importante para as economias locais, além de gerar centenas de milhares de empregos. A questão ambiental é prioritária, assim como é necessário definir – e levar adiante – um modelo de negócios atrativo para o investimento da iniciativa privada. Os estados que estão nesse caminho apresentam melhor desempenho”, analisa Francisco Medeiros, presidente executivo da Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR), entidade responsável pelo levantamento da produ¬ção nacional de peixes de cultivo. 

Os peixes nativos estão, prioritariamente, na região Norte. Rondônia é o maior produtor (56.500 toneladas), porém teve queda em 2023 (-1,2%). Entre os 5 maiores produtores, somente Mato Grosso teve ligeiro aumento da produção. Além de Rondônia, Maranhão, Pará e Amazonas tiveram recuo, como mostra o quadro.

 

OUTRAS ESPÉCIES: CUMPRINDO SEU PAPEL EM DIVERSIDADE DE OFERTA 

Carpas, trutas e pangasius são as espécies mais importantes desse segmento, que mostrou estabilidade, em 2023, mas tem potencial de crescimento. 

A produção de outras espécies de cultivo – liderada por carpas, trutas e pangasius – manteve-se estável em 2023, mostra o levantamento da Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR). No total, o segmento foi responsável pela oferta de 44.470 toneladas, que representa 5% da produção total. Em 2023, participava com 5,03%. 

“Este é um nicho liderado por carpas e trutas, espécies de regiões mais frias. A notícia positiva é o crescimento da produção de pangasius, especialmente em estados da região Nordeste, como Maranhão e Piauí”, informa Francisco Medeiros, presidente da Peixe BR. Importante destacar que estão em an¬damento conversações no Ibama em relação à regularização da criação da pangasius no Brasil. 

O Rio Grande do Sul, com 17.000 toneladas, em 2023, lidera o cultivo dessas espécies, seguido por Santa Catarina, Maranhão, Piauí e São Paulo. Entre os cinco estados, dois apresentaram queda da produção de outras espécies (SC e MA), dois alta (PI e SP) e um estabilidade (RS), como mostra o quadro.

 

2023, GRANDES DESAFIOS PARA A PISCICULTURA BRASILEIRA. MAS VENCEMOS!

Francisco Medeiros 

Presidente Executivo da Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR)

2023 começou com a recriação do Ministério da Pesca e Aquicultura em um momento em que a piscicultura convivia com uma das melhores taxas de crescimento anual de sua história. O modelo enfrentava dificuldades, mas crescia a taxas robustas. O Ministério leva a atividade a subir a régua das expectativas positivas. O ano foi marcado pela aproximação com essa nova estrutura de governo. 

Em relação às principais espécies, os peixes nativos – uma das promessas da piscicultura nacional – enfrentou em 2023 os mesmos problemas dos anos anteriores: baixo nível de industrialização e ainda nível indesejado de comercialização irregular, mas com uma vontade imensurável dos produtores e empresários em fazer acontecer. Afinal, o mercado gosta do produto. Um exemplo é o prêmio da costelinha de tambaqui na Seafood Expo North America, em Boston. 

Já a tilápia cresceu, mas pouco em comparação aos últimos nove anos. Isso se deveu, basicamente, a problemas sanitários, responsáveis pela redução da produção de alevinos e aumento da mortalidade no campo, principalmente no cultivo em tanques-rede. Mas o setor reagiu e novas unidades de produção, com sistemas mais rigorosos de biossegurança, além de programas de vacinação mais robustos, proporcionaram já no último trimestre do ano passado uma oferta regular de alevinos. Os juvenis, porém, essenciais para quem produz em tanques-rede, não atenderam à demanda. 

O mercado interno não se importou com a oscilação da oferta e manteve-se aquecido o ano todo, o que impactou diretamente as exportações com taxa reduzida de crescimento (4%) quando comparada aos anos anteriores. 

Aliás, levantamento exclusivo da Peixe BR mostra que a tilápia é a proteína animal cujo consumo mais cresceu na última década, passando de 1.47 kg/hab/ano para 2.84 kg/hab/ano. Crescimento de 93%! 

Os preços de insumos para ração foram mais amigáveis do que em 2022, o que contribuiu para melhor gestão dos custos de produção. 

Os principais projetos de expansão da piscicultura, principalmente de tilápia, continuaram, principalmente nos estados do Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, São Paulo e Minas Gerais. Juntos, eles representam o grande grupo de produção de tilápia no Brasil. Nada mais natural – afinal, estão próximos dos insumos e do consumo. 

Terminamos 2023 com novos regulamentos do Ministério da Pesca e Aquicultura e do Ibama que podem impactar a produção em 2024, além – é claro – da chegada de um contêiner de filé de tilápia do Vietnã. Foi um dezembro cheio de preocupação. 

Mas, bem-vindo 2024! A confiança da piscicultura brasileira continua e vamos em busca de maior safra de peixes de cultivo da história.

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