Recentes levantamentos do Ministério da Saúde revelam que, no Brasil, 77% dos casos de leptospirose ocorrem em áreas urbanas, mas apenas 49% desses casos são contraídos nas cidades. A maioria dos casos urbanos que se originam em ambientes rurais não está relacionada a enchentes. No entanto, no Rio Grande do Sul, a leptospirose humana é mais prevalente (69%) em áreas rurais em comparação com as urbanas (31%), com um risco oito vezes maior de contrair a doença no campo do que na cidade.
A leptospirose é causada pela bactéria Leptospira, com mais de 35 espécies e 300 subtipos. Cerca de 33% deles não causam doença em humanos. A forma espiral da Leptospira facilita a penetração na pele úmida ou mucosas, especialmente em áreas úmidas e sombreadas. As bactérias podem sobreviver em água parada por quase um ano e em solos úmidos por alguns meses. No corpo humano, a Leptospira se aloja nos cantos dos rins, onde é menos afetada por anticorpos e antibióticos, sendo eliminada na urina. A prevenção, especialmente em áreas rurais durante as chuvas, inclui o uso de botas de borracha não furadas ao circular nas pastagens.
“Os casos de campo estão sendo melhor estudados na terra dos pampas. A maioria ocorre durante o período chuvoso. Muitos contraem a doença trabalhando na cultura do arroz irrigado, tendo contato com água contaminada por urina de murídeos, capivaras e ratões-do-banhado; na cultura do tabaco atinge lavradores que andam sem bota de borracha, pois se verificou que o pequeno grau de acidez do solo favorecia a sobrevivência da bactéria danosa; e em áreas de criação, principalmente de bovinos e ovinos, onde a doença é mais presente em pecuaristas e tratadores”, escrevem Enrico Lippi Ortolani Prof. Titular do Departamento de Clínica Médica da FMVZ -USP e Enrico Seyssel Ortolani Veterinário Auditor Fiscal Federal Agropecuário-MAPA.
“A vacinação poderia ser a melhor forma de prevenir a doença no homem, mas acontecem três problemões ligados as faltas de segurança e de ampla proteção, e a curta duração desta proteção. As vacinas tradicionais (bacterinas) causam ocasionalmente reações indesejáveis no homem, como diarreia, vomito e até morte, que por sorte não acontece nos animais. Para oferecer total proteção a vacina deveria conter pelo menos uns 10 sorovares das leptospiras mais frequentes, pois cada espécie animal (murídeos, boi, porco etc.) transmite um ou mais sorovares de Leptospira característicos, e não existe uma vacina única que protege contra todos os subtipos”, concluem.