Foi de Campos de Júlio, município de 8.822 habitantes, distante pouco mais de 500 km da capital Cuiabá, que tem como característica a topografia plana, com terras férteis e próprias para a agricultura, que saiu o grande campeão da 5ª edição do Concurso de Produtividade no Milho, apresentado durante o Fórum Inverno Getap (Grupo Tático de Aumento de Produtividade) 2023. O agricultor Adalberto Ceretta, sagrou-se campeão na categoria sequeiro, ao atingir a expressiva marca de 237,6 sacas do cereal por hectare, com o híbrido Agroceres (uma das marcas da Bayer). Ele concorreu com outros 129 produtores de nove estados que foram auditados até o início de outubro.
Segundo Ceretta, um dos segredos para atingir esse resultado é o trabalho de melhoria constante. “A cada ano, buscamos aumentar a produtividade de nossas áreas por meio de maquinários mais modernos, adubação correta, com atenção e muito cuidado ao solo. Também fazemos investimentos em gestão de pessoas e focamos sempre na eficiência de todos os processos de manejo. Contamos com uma equipe muito comprometida na fazenda, fomos evoluindo a cada safra até chegar nesse nível”, confidenciou.
O agricultor nascido no Rio Grande do Sul, há 20 anos mudou-se para Mato Grosso e tem feito história na região. Atualmente em Campos de Júlio cultiva milho e soja em 6,5 mil hectares e ainda algodão em 1.300 ha. Também tem outras duas fazendas de 3.000 ha e 600 ha, respectivamente, nos municípios de Sinop e União do Sul, também em MT.
Com planejamento definido, Ceretta já está se organizando para a próxima safra, a qual indica margens mais apertadas em relação aos últimos anos. “A nossa estratégia para o ano que vem é tentar baixar os custos, evitar gastos excessivos e torcer para que aumente o preço no final. Está tendo uma demanda boa de etanol de milho na nossa região, a usina instalada na cidade cresceu muito e aumentou a capacidade instalada, então, estamos bem servidos aqui”, destacou o campeão sequeiro da 5ª edição do Concurso de Produtividade no Milho.
O ano de 2023 foi marcado por uma série de desafios para os produtores brasileiros. Após três safras seguidas de valorização fora da curva da série histórica, este ano o mercado voltou para a normalidade pré-pandemia. Se por um lado nessa temporada o Brasil produziu mais de 110 milhões de toneladas de milho, chegando ao ponto de não ter onde estocar, por outro, os produtores viram os preços, que estavam batendo no teto, caírem até 50% ao longo do ano.
Conforme destacou Anderson Galvão, curador do Getap, durante sua apresentação no Fórum Getap Inverno 2023, realizado na última semana em Indaiatuba/SP, este ano marca a volta à normalidade com margens positivas, mas menores do que as três safras anteriores. “De 2020 a 2022 foram três safras com preços excepcionais com produção em patamares diferenciados fora do padrão histórico, na soja, no milho e em outras culturas agrícolas. Este ano tivemos ainda uma avalanche de milho no mercado, portanto, é um momento de desaceleração”, destacou.
Ainda de acordo com o especialista, a safra 2023/24 será de “arrumação”, ou seja, é o momento de pegar fôlego para retomada do crescimento. Entretanto, para essa nova aceleração haverá alguns desafios. O primeiro deles certamente será o fator climático, excesso de chuvas em algumas regiões ou escassez em outras, trazem grande impacto no resultado. “Até o momento, o cenário para 2024 indica menor produção. Já houve uma queda no cultivo do milho verão, e deverá ter também uma redução acentuada de milho inverno”, disse.
Além disso, o produtor está acanhado em relação a novos investimentos, seja por essa questão de clima, falta de janela de plantio ou até mesmo por uma questão de rentabilidade. “Essa diminuição de oferta deve começar a influenciar os preços em meados de setembro. Por isso, o próximo ano indica sustentação de preços dada menor oferta”, detalha o especialista.
Outro ponto que pode ser determinante é a taxa de câmbio. Esta, por sua vez, trouxe muitas alegrias, mas em determinados momentos pode trazer muitas tristezas também. “Tudo isso em conjunto sinaliza para gente que as próximas safras serão de retomada”, diz Galvão.
Se os próximos dois anos indicam retomada, a médio e longo prazo os indicadores são otimistas. O primeiro ponto será alavancado pela produção de etanol de milho, uma indústria relativamente nova, com menos de uma década de existência, mas que já é extremamente competitiva. “O parque instalado hoje no Brasil de etanol de milho é de aproximadamente 18 milhões de toneladas e está moendo 15 mi de t. Para 2025, a estimativa é de 23 mi de t de capacidade instalada para produzir etanol de cereais, pois juntamente com o milho começa-se a acoplar o sorgo para utilizar o espaço territorial das áreas marginais das fazendas, nas quais o cultivo do cereal a partir do final de fevereiro é mais arriscado”, pontua o curador do Getap.
Outro elemento que será determinante no futuro deste mercado será a China que chegou com tudo em 2023. De janeiro a outubro, o país importou do Brasil o que o Vietnã, tradicional comprador de milho dos brasileiros, adquiriu em cinco anos. “Nos próximos anos, os chineses vão fazer no mercado de milho brasileiro o que fizeram no mercado de soja. Projetamos que até 2030 devemos exportar ao país asiático algo entre 40 e 60 milhões de toneladas”, finaliza Galvão.