A JBS, uma das maiores empresas de alimentos do mundo, defendeu em painel realizado hoje (01/12) na COP28, a necessidade da criação de um programa nacional de rastreabilidade de gado, além do apoio para que pequenos produtores possam avançar em práticas de agropecuária regenerativa. A defesa foi feita por Sheila Guebara, líder de Ações Climáticas da JBS Brasil, durante o painel “Caminhos para uma Pecuária Regenerativa e Rastreável”, realizado no pavilhão brasileiro da conferência climática, que debateu a importância, os desafios e as formas de viabilizar o monitoramento de todo o rebanho bovino brasileiro.
Sheila Guebara, líder de Ações Climáticas na JBS Brasil, em painel nesta manhã, em Dubai, ao lado de Luiza Bruscato, da ONG Mesa Brasileira, Pedro Burnier, da Amigos da Terra, Ricardo Negrini, do MPF e Renata Potenza, da Imaflora
A executiva falou sobre a necessidade de uma atuação coletiva entre os vários agentes envolvidos no setor para avançar na questão da rastreabilidade de todos os elos da cadeia de fornecimento, que hoje é o grande desafio da pecuária brasileira. Para esse enfrentamento, a criação de um programa nacional para rastrear o gado significaria um grande avanço. “Trabalhar ação climática passa necessariamente por rastreabilidade e por promover uma pecuária regenerativa e de baixo carbono. A JBS vem defendendo, há algum tempo, a necessidade de um sistema e de uma política nacionais nesse sentido, obrigatórios a todos os elos. Isso é o que vai trazer transparência e credibilidade para toda a cadeia. A gente já vem fazendo a nossa lição de casa. Com a Plataforma Pecuária Transparente, temos o compromisso de, até 2025, termos 100% dos nossos fornecedores diretos monitorando os seus respectivos fornecedores. Para 2023, tínhamos uma meta de termos 57% de nossa base já cadastrada e estamos felizes de encerrar o ano com 62%”, disse Guebara.
A representante da JBS lembrou que, há quase 15 anos, a Companhia já monitora seus fornecedores diretos por meio de um sistema geoespacial e que o desafio setorial é justamente o de levar o mesmo controle aos demais elos da cadeia. Guebara também mencionou a necessidade de apoiar os pequenos produtores para que possam adotar práticas da agropecuária regenerativa, como a utilização de tecnologias e implementação de sistemas agroflorestais biodiversos, além de financiamento para identificação de animais. Tudo com um objetivo: melhorar o sustento de pequenos agricultores e suas comunidades. “É uma série de ações: eu monitoro e bloqueio quem não está adequado, mas é necessário pensar formas também de reintegrar esses produtores bloqueados. Por isso, temos feito também um trabalho importante com os nossos Escritórios Verdes, que já ajudaram na regularização e no apoio a cerca de 19 mil produtores para aplicação de boas práticas de pecuária regenerativa”, afirmou.
Também participaram do painel, Joaquim Bento de Souza, professor titular do Departamento de Economia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP); Luiza Bruscato, diretora executiva da Mesa Brasileira da Pecuária Sustentável; Ricardo Negrini, procurador da República no Ministério Público Federal; e Pedro Burnier, gerente do Programa de Pecuária da ONG Amigos da Terra, com moderação de Renata Potenza, coordenadora de Projetos de Clima e Cadeia Agrícola da Imaflora.
Os painelistas apontaram a necessidade de uma atuação conjunta para garantir a questão da rastreabilidade e avançar em uma cadeia regenerativa. “Hoje, o sistema de rastreabilidade por excelência que conseguimos adotar são as GTAs (Guias de Trânsito Animal), acessíveis ao Ministério da Agricultura. Mas esse sistema apresenta vários pontos de deficiência: não é individual e os frigoríficos só têm acesso às GTAs de seus fornecedores diretos, não dos demais elos. Todos esses desafios atrapalham a rastreabilidade e, consequentemente, a garantia da sustentabilidade. Mas já temos boas perspectivas e iniciativas importantes sendo adotadas para garantir a rastreabilidade individual”, explicou o procurador Ricardo Negrini.
No campo técnico em termos de redução de emissões e captura de metano, outro desafio para a sustentabilidade da pecuária, o professor Joaquim Bento de Souza trouxe exemplos de como o manejo de pastagens e da digestibilidade dos animais podem contribuir para avançar nesta frente. “Temos um grande potencial de extração de carbono no solo e temos que prestar atenção nessa oportunidade de fixação. Isso teria potencial de neutralizar as emissões na pecuária brasileira.”, afirmou.
Pedro Burnier, da Amigos da Terra, reforçou a importância de inclusão e incentivo ao produtor para avançar em práticas regenerativas. “É necessário um sistema de requalificação e também incentivos paralelos para atingirmos o primeiro elo da cadeia, para que inclusive o criador de bezerro receba um benefício que contribua para a adoção de práticas mais sustentáveis. É necessária uma associação entre produtores, indústria, governo e ONGs para atingir toda a cadeia”, afirmou.
A participação dos produtores no debate, como importantes agentes da cadeia, foi reforçada por Luiza Bruscato, da Mesa Brasileira da Pecuária Sustentável. “Uma questão que é muito importante é trazer o produtor rural para o debate. Ele tem que se empoderar e entender que tem papel fundamental para a mudança, que vai vir da terra. O setor produtivo precisa estar engajado e perceber que, sem ele, não vamos conseguir fazer nenhuma mudança de fato”.