Publicado em 06/03/2015 18h38

Novos negócios no deserto

A agrotecnologia desenvolvida por cientistas e agricultores de Israel para driblar a falta de água vira produto de exportação
Por: Bruno Blecher

deserto

Do alto de uma colina em Sderot, cidade a 75 quilômetros de Tel Aviv, Moshe Scholnick aponta para uma nuvem cinzenta ao longe: “A Faixa de Gaza é bem ali, a 2,5 quilômetros. Se o céu estivesse limpo, você poderia ver os prédios e os povoados palestinos”.

Imaginei a tensão nesta área em 2014, quando o Exército de Israel e os militantes do Hamas trocaram mísseis e foguetes durante 50 dias, numa guerra que deixou um saldo trágico – 2.143 palestinos e 70 israelenses mortos, até o cessar-fogo, em agosto.

“Você conhece algum palestino de Gaza?”, pergunto a Moshe. “Teve um tempo em que milhares de palestinos trabalhavam em Israel, boa parte deles na agricultura. Nas festas de aniversário, eles costumavam nos visitar ou nós íamos lá comemorar com as famílias deles. Depois, a guerra se acirrou e a gente se afastou”, ele responde, com o olhar ainda perdido na névoa de Gaza.

Moshe, de 60 anos, é tesoureiro do kibutz Bror Chail, construído por judeus vindos do Egito em 1948, ano da Declaração da Independência de Israel, mas que virou uma espécie de território brasileiro nos anos 70 do século passado, quando recebeu um grande número de imigrantes de São Paulo, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Bahia e outros Estados do Brasil.

Os primeiros kibutzim (o plural de kibutz) surgiram na então Palestina no princípio do século XX e tiveram um papel fundamental para a criação do Estado de Israel, em 1948. Boa parte deles foi construída por judeus do Leste Europeu como comunidades agrícolas autossuficientes, de princípios socialistas. Eles faziam parte do movimento sionista, que defendia a existência de um Estado nacional judaico na Palestina.

O kibutz (que significa grupo, em hebraico) tinha como principal característica o coletivismo. A receita gerada pela produção agrícola era destinada a um fundo comum e todos os seus membros recebiam a mesma “mesada”. Nos primeiros anos, o movimento kibutziano era quase anarquista: tudo era coletivo, todos comiam no refeitório, as decisões eram tomadas em assembleias e as crianças dormiam juntas, separadas dos pais.

Hoje há 273 kibutzim, que representam 2,2% da população do país, e 450 moshavim, assentamentos rurais com entre 60 e 120 famílias de agricultores, que funcionam como pequenas cooperativas. De lá saem cerca de US$ 2,1 bilhões por ano, considerando a produção de leite, aves e ovos, flores, verduras, legumes, frutas, ovinos e grãos.