No agronegócio, os desafios são diários e de alta complexidade, mas entre todos um se destaca, pois está diretamente relacionado à perpetuidade dos negócios: a sucessão familiar. Independentemente do porte do empreendimento rural é preciso desde cedo estruturar a troca de bastão, ou seja, o tema tem que estar entre as prioridades da governança corporativa. Este assunto, inclusive, sempre foi uma das preocupações de Evandro Martins, fundador da FertiSystem, empresa especialista em tecnologias para plantio e distribuição de adubos, que este ano passou o comando da companhia para seu filho Daniel Martins, o novo CEO.
Da esquerda para a direita, ao fundo, João Martins, patriarca da família, abaixo, Mariana Martins, diretora de negócios da FertiSystem, ao seu lado, Daniel Martins, o novo CEO, ao centro, Milena Martins, analista de Gente & Gestão na FertiSystem e no canto superior direito, Evandro Martins
O processo de sucessão finalizado este ano, não ocorreu do dia para a noite e foi apenas uma das dezenas de etapas que foram planejadas nos últimos 20 anos. “O Daniel teve a carteira de trabalho assinada aos 14 anos, de lá para cá percorreu todas as funções da linha de montagem e produção. Foi subindo de cargo conhecendo todos os departamentos da empresa, absorvendo todo o conhecimento. Desta forma, se preparou para agora assumir o comando da FertiSystem”, destacou o fundador.
A missão do novo CEO já foi muito bem planejada. Além de manter a empresa, que atualmente fornece dosadores de adubos para 90% das fabricantes de máquinas no Brasil, em destaque no cenário nacional, a companhia mira também crescimento no exterior, principalmente no mercado americano. “Somos referência na agricultura brasileira e agora queremos ampliar as nossas exportações, que representam cerca de 10% das vendas. Já fornecemos tecnologia para alguns países na Europa e na África do Sul, mas com a qualidade dos nossos dosadores podemos avançar muito nesses mercados do exterior e nisso que o Daniel vai focar também”, explica.
O processo de sucessão também está bem adiantado com a segunda geração da família Martins já atuando em diferentes áreas da empresa. Além de Daniel no cargo de CEO, as filhas Mariana e Milena assumiram o Marketing e a Gestão de Pessoas, respectivamente. “Essa mudança em uma empresa precisa ser muito bem alicerçada, não é algo de um dia para o outro. Graças a Deus e a esse planejamento, temos conseguido unificar e o mais interessante de tudo é ter os três filhos atuando em atividades distintas que não se colidem e se complementam”, detalha o patriarca.
O processo de sucessão gera por consequência mudanças profundas, dentro e fora da empresa. No caso da FertiSystem, essa transição contou com um plano estratégico sob orientação de uma consultoria especializada. Juntos, definiram as novas diretrizes da companhia que resultaram na criação de uma espécie de documento de conduta de 52 páginas.
Segundo Evandro, o grande divisor de águas para eles foi realmente tabular o planejamento estratégico em cima de uma governança. “Não basta eu simplesmente fazer o planejamento estratégico, estabelecer as metas e objetivos a médio ou longo prazo, se tudo isso não for compartilhado e organizado. Para isso, buscamos especialistas no assunto que nos ajudaram a instituir os valores e criar um plano de ação que resultou neste importante documento de conduta”, enfatizou.
Além de preparar o sucessor, um ponto importante destacado pelo patriarca é saber identificar o momento certo de passar o bastão para que a empresa se perpetue e continue crescendo. Essa missão não é fácil, mas com muito diálogo, identificando a posição de cada um, essa mudança ocorre de maneira natural. “Um processo de sucessão nunca é fácil, há divergência de ideias e conflitos, é natural acontecer, tem que acontecer, mas precisa ser resolvido da melhor forma. Eu não vou me desligar da empresa, muito pelo contrário, vou para o conselho consultivo e vou ajudar com minha experiência nessa jornada”, destacou o fundador.
O executivo, agora assume a cadeira de presidente do conselho e com essa nova função passa também a dedicar-se à área que tanto adora: Pesquisa e Desenvolvimento, testando novas tecnologias e aperfeiçoando os produtos existentes. “Queremos abrir mais leques de atuação, inclusive desenvolvimento de novos produtos e inovações disruptivas aliadas a práticas de sustentabilidade transformacional. Nós temos um trabalho bem interessante com a Embrapa, que é o redesenho do sistema de plantio direto. Então buscamos novas possibilidades, com foco em boas práticas ao meio ambiente dentro dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS)”, finaliza.