Publicado em 20/06/2023 15h45

El Niño deve “devastar economia mundial”, diz agência

No Brasil e na Colômbia, a vilã será a seca, que pode afetar a produção.
Por: Leonardo Gottems

A volta do fenômeno climático El Niño após quase quatro anos deve El Niño deve trazer “devastação sem precedentes para economia mundial”, aponta a Bloomberg Economics. De acordo com a modelagem da agência internacional, a mudança da fase mais fria do La Niña para uma fase de aquecimento pode “gerar o caos, principalmente nas economias emergentes que crescem rapidamente”.

A previsão vem em um momento no qual a economia global já está frágil, ainda lutando para se recuperar da Covid-19 e a guerra da Rússia na Ucrânia. “As redes elétricas sofrem tensões e os apagões se tornam mais frequentes. O calor extremo cria emergências de saúde pública, enquanto a seca aumenta os riscos de incêndio. As colheitas estragam, as estradas são inundadas e as casas são destruídas”, aponta a Bloomberg.

Os analistas lembram que os anos de El Niño anteriores resultaram em um impacto marcante na inflação global, acrescentando 3,9 pontos percentuais aos preços das commodities não energéticas e 3,5 pontos percentuais ao petróleo. O fenômeno também afetou o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), principalmente no Brasil, na Austrália, na Índia e em outros países vulneráveis.

“Com o mundo lutando contra a inflação alta e o risco de recessão, o El Niño chega exatamente no momento errado. Os bancos centrais têm poder mais limitado”, disse Bhargavi Sakthivel, economista da Bloomberg Economics. Segundo ele, enquanto as intervenções políticas tendem a manipular a demanda, o El Niño normalmente afeta a oferta.

De acordo com a agência, na Índia, por exemplo, a “redução das monções pode afetar as colheitas de arroz, algodão, milho e soja. Os Estados Unidos voltarão a ver tempestades de inverno mortais, embora haja uma queda geral no número de furacões. Partes do oeste e do sul da África poderão ser atingidas pela seca, afetando a produção de cacau e milho”.

“A Austrália pode sofrer com secas severas e incêndios florestais, o que prejudicaria a produção de trigo e outras culturas. No Brasil e na Colômbia, a vilã será a seca, que pode afetar a produção de café, mas o contrário acontece no Peru: enchentes generalizadas e redução na pesca de anchovas. Na China, as temperaturas já estão matando o gado e sobrecarregando as redes de energi”, acrescenta.

“Quando ocorre um El Niño além da tendência de aquecimento de longo prazo, é como um choque duplo”, disse Katharine Hayhoe, cientista-chefe da The Nature Conservancy. Os riscos são mais graves nos trópicos e no Hemisfério Sul. O El Niño pode cortar quase meio ponto percentual do crescimento anual do PIB na Índia e na Argentina, de acordo com o modelo da Bloomberg Economics.

O aumento geral das temperaturas amplifica os efeitos dos fenômenos climáticos. Os últimos três anos de La Niña – 2020 a 2023 – foram mais quentes do que todos os anos de El Niño antes de 2015. A Organização Meteorológica Mundial calcula que há uma chance de 98% de que a combinação do acúmulo de gases de efeito estufa e o retorno do El Niño fará com que o próximo período de cinco anos seja o mais quente até agora, levando as temperaturas globais a um território desconhecido.

“O El Niño só vai piorar os impactos da mudança climática que já estamos vivenciando – ondas de calor mais quentes, secas mais severas e incêndios florestais mais extremos”, disse Friederike Otto, professora sênior do Grantham Institute for Climate Change and the Environment.

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