Publicado em 05/02/2015 15h48

Seca e crise energética: agronegócio já contabiliza graves prejuízos

Se a estiagem continuar por mais tempo em boa parte do País e se a crise do setor elétrico não for contornada rapidamente, tudo indica que o ano de 2015 será bem mais difícil para os produtores rurais brasileiros. As perdas estão sendo estimadas e há Estados que já contabilizam quedas de produção que podem passar de 80%, como é o caso das lavouras de feijão em Minas Gerais.
Por: SNA

secando

O setor de grãos certamente é o mais afetado, mas os efeitos da seca prolongada também podem ser sentidos na pecuária de corte e de leite, suinocultura, avicultura, horticultura, entre outros segmentos do agronegócio. Para se ter uma ideia do grave cenário, a Federação de Agricultura do Estado de Minas Gerais (Faemg) calcula que a queda da produção mineira de leite pode chegar a 20%, dependendo da localidade.

As perdas “variam de 5% a 20%, dependendo da região, mas lembrando que são dados preliminares”, informou Rodrigo Alvim, diretor da entidade. Ele ainda lembra que o pasto seco também prejudicou a pecuária de corte em Minas. Com a seca, houve queda no número de bezerros nascidos vivos. “As vacas, no ano passado, não entraram no cio.”

A estiagem fez o Estado perder R$ 3,37 bilhões em vendas não concretizadas de café, milho, soja e feijão, conforme estimativa da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater).

De acordo com a Faemg, no Centro-Oeste de Minas, polo da avicultura do Estado, cerca de 10 mil aves morreram no município de São Sebastião do Oeste, no final de janeiro. Sem energia elétrica e sem chuvas, a temperatura escapou do controle nas granjas, atingindo 39 graus, causando a morte dos animais. Na região Norte do Estado e no Vale do Jequitinhonha, os criadores de gado perderam cerca de 1 milhão de cabeças por causa dos efeitos da estiagem, que já dura três anos.

TRANSMISSÃO DE ENERGIA

A situação da seca em Goiás também é preocupante, associado às constantes quedas de energia elétrica no Estado. Dados da Federação de Agricultura e Pecuária da região (Faeg) estimam que as perdas da safra de soja, por exemplo, podem chegar a R$ 1,2 bilhão.

Na opinião do presidente da entidade, José Mário Schreiner, se o problema da crise energética que vem afetando o Brasil é grande nas cidades, “no campo, ela fica ainda pior”. Um dos problemas apontados por ele tem sido a grande oscilação do sistema de energia, o que ocasiona picos de voltagem e quedas abruptas.

“Isso faz com que equipamentos eletrônicos utilizados nas propriedades queimem, trazendo prejuízos aos produtores que, em muitos casos, não são ressarcidos ou os processos são morosos.”

Presidente da Faeg, José Mário Schreiner afirma que, se o problema da crise energética que vem afetando o Brasil é grande nas cidades, “no campo, ela fica ainda pior”. Foto: Larissa Mello/Divulgação Faeg
Presidente da Faeg, José Mário Schreiner afirma que, se o problema da crise energética que vem afetando o Brasil é grande nas cidades, “no campo, ela fica ainda pior”. Foto: Larissa Mello/Faeg

Outro problema, na visão de José Mário, é que quando a energia cai, em diversas localidades, há uma extensa demora na religação do sistema – entre 48 e 72 horas -, o que, “no caso de algumas atividades completamente dependentes de energia elétrica, é inconcebível”, como na produção de leite (resfriadores, ordenhadeiras), irrigação (sistemas de pivô, gotejamento, etc.), entre outras atividades.

“Com isso, os produtores perdem sua produção ou têm reduções em seus índices de produtividade. A falta de novos investimentos nas linhas de transmissão afeta, também, os novos empreendimentos, que ficam inviabilizados mediante a ausência de energia nos locais desejados. Os projetos de expansão da rede elétrica são extremamente morosos. Temos vários exemplos de projetos de armazéns que são movidos a geradores de diesel, o que encarece significativamente a atividade”, salienta o presidente da Faeg.

“Hoje, podemos dizer que os problemas com o fornecimento de energia elétrica em Goiás é um dos principais entraves para a evolução do setor. A falta energia para novos empreendimentos rurais derruba o grande potencial de crescimento do agronegócio. É importante frisar que o problema não está na geração de energia e, sim, em sua transmissão. Com linhas antigas e falta de investimentos em manutenção, aliados a um sistema de suporte aos clientes, que não atende à intensa demanda, o setor é diretamente afetado pelos problemas energéticos”, explica José Mário.