Publicado em 22/12/2020 23h12

Prolongamento de greve em portos da Argentina preocupa moinhos de trigo do Brasil

Importações brasileiras de trigo e centeio caíram pela metade até a terceira semana de dezembro.
Por: Reuters

 

O prolongamento de uma greve de trabalhadores em portos na Argentina, movimento que entrou na sua segunda semana, é fator de preocupação para moinhos de trigo do Brasil, especialmente se a paralisação não for encerrada até o final do ano, avaliaram representantes do setor e um especialista nesta segunda-feira.

Mais de cem navios cargueiros estão enfrentando atrasos para carregar produtos agrícolas na Argentina nesta segunda-feira, conforme relatos de integrantes do setor, que apontam paralisação dos embarques de vários produtos no país vizinho.

O Brasil, que importa a maior parte de suas necessidades de trigo e tem na Argentina seu principal fornecedor, registrou uma desaceleração nos desembarques do cereal em dezembro, conforme dados do Ministério da Economia divulgados nesta segunda-feira.

A situação só não é mais grave para o Brasil porque no final do ano muitas indústrias reduzem a demanda por trigo, por conta de paradas para recesso e ainda há oferta de cereal nacional, uma vez que a colheita foi encerrada há pouco.

"A informação que eu tenho é que havia expectativa de que a greve terminaria antes do final do ano. Se não houver o final da greve, alguns moinhos vão ser afetados, porque têm barcos chegando...", disse o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), Rubens Barbosa, à Reuters.

Segundo ele, esses moinhos estariam localizados ao sul do Brasil.

"Nesta época do ano são poucos os que compram o trigo. Se acabar o greve, não tem problema nenhum. Se não acabar, aí sim vai ter, alguma coisa limitada para alguns", acrescentou ele, pontuando que está em contato com a embaixada brasileira em Buenos Aires para acompanhar a situação.

Uma fonte do setor, por outro lado, indicou uma situação mais "dramática".

"Tudo parado. Vários navios esperando para carregar. Alguns moinhos podem ficar sem trigo", disse a fonte que atua em uma empresa paulista, na condição de anonimato, por não ter autorização para falar com a imprensa.

As importações brasileiras de trigo e centeio caíram pela metade até a terceira semana de dezembro, para pouco mais de 14 mil toneladas/dia, na comparação com a média do mesmo mês do ano passado, segundo dados do governo brasileiro.

"Acredito que tenha um impacto sim, principalmente se a greve continuar se estendendo ao longo de janeiro, o que poderia afetar a oferta interna brasileira", afirmou o analista Jonathan Pinheiro, da Safras & Mercado, ao ser consultado.

"Os preços poderiam voltar a ter reajustes para cima, tendo em vista uma possível busca por alternativas dos compradores, buscando o trigo em países menos competitivos, além de custos logísticos mais elevados", acrescentou.

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