Segundo o diretor da Sabesp Paulo Massato, as torneiras poderão ficar secas por até cinco dias seguidos. Especialistas ouvidos pelo blog avaliam que a proposta está dentro do que já vinha sendo previsto como modelo de restrição. Isso porque, por causa do tamanho da rede de abastecimento, a água tem de viajar durante mais de 24 horas pela tubulação para alcançar os extremos. Isso significa que seria preciso manter a distribuição por pelo menos dois dias para garantir que quem está mais afastado não deixe de receber água.
Só que um rodízio capaz de fazer diferença na economia de água exige fechar os registros pelo dobro do tempo em que permanecem abertos. Assim, se eles têm de ficar abertos por dois dias, precisam ficar, no mínimo, os quatro dias seguintes fechados. A proposta da Sabesp já está um grau acima desse mínimo, acrescentando um quinto dia sem água na equação: dois dias de abastecimento seguidos de outros cinco de seca. Quando dizemos “sem água” é claro que isso não inclui o volume que fica armazenado na caixa d´água — o que, em média, dá para dois dias. De qualquer forma, cinco dias é bastante tempo para ficar sem algo tão fundamental.
A gravidade da situação fez com que a revista VEJA que está nas bancas nesta semana trouxesse em sua reportagem de capa um especial sobre os efeitos da escassez combinada de água e de luz. O texto de abertura, do que participei, pode ser lido aqui. A apuração demandou dezenas de conversas com especialistas de várias áreas.Uma das cientistas a colaborar foi Adriana Cuartas, pesquisadora do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia. Por meio de um software desenvolvido para antever o que vem por aí, Adriana elaborou quatro cenários possíveis, que vão do pânico à calmaria –sendo este último, infelizmente, o mais improvável de todos. Os prognósticos referem-se apenas ao sistema Cantareira. Perceba que nos cenários 3 e 4 a cientista previu uma redução de 40% do consumo, mas, pelo que indica o modelo de rodízio em estudo, a redução a ser imposta pela Sabesp será maior do que isso. Vamos aos cenários:
Cenário 1 – Pânico
Se as próximas chuvas atingirem somente 25% da média histórica (como tem sido este mês de janeiro) e o ritmo atual de captação for mantido, o manancial resistirá somente até março/abril. Como a segunda temporada de chuvas do ano tem início em outubro, serão seis meses bastante críticos, em que dificilmente será possível escapar de um rodízio de água. Piscinas de clubes e condomínios serão interditadas e, no limite, locais onde o consumo é alto, como escolas e shoppings, fecharão as portas temporariamente. Fabricantes de bebidas e de papel e celulose já estudam migrar suas produções para o sul do país.
Cenário 2 – Preocupação
Se chover metade da média histórica e a captação for mantida como está, o manancial deve durar até junho. Faltarão então três meses para o nova temporada de chuvas, período que pode ser atravessado com a ajuda de planos emergenciais baseados no uso de caminhões pipa e de poços artesianos. Isso incluiria um aumento no número de poços e no volume extraído dos 12.000 poços existentes em São Paulo. Como tanto nos poços quanto nos caminhões pipa a origem da água nem sempre pode ser verificada, será preciso comprar água mineral para beber, item que no ano passado acumulou alta de preço de 15% (IPC-Fipe), o triplo da média geral.
Cenário 3 - Esperança
Se chover cerca de 25% acima da média história e captação cair em 40%, o sistema deve aguentar até o final deste ano, quando as chuvas mais intensas costumam ocorrer. Somado a isso, até fevereiro do ano que vem, está prevista a entrega de cinco grandes obras orçadas em mais de 1 bilhão de reais e que devem acrescentar cerca de 10 m3/s à captação total. Entre elas, há um sistema de reuso de água da represa Guarapiranga e a interligação do Rio Pequeno com a represa Billings.
Cenário 4 – Calmaria
Se chover o dobro da média histórica e o consumo for reduzido em 40%, será possível recuperar os volumes mortos já utilizados e atingir pelo menos a meta de 70% de preenchimento do volume útil, situação que os especialistas consideram confortável para o abastecimento. No ano passado, porém, apenas março superou a média história de chuvas. Os outros onze meses registraram taxas abaixo do normal, assim como janeiro desde ano vem registra até aqui. Esse histórico recente faz deste cenário o mais improvável de todos.