Comunidades de agricultores familiares, que participam de ações de transferência de tecnologias da Embrapa Amazônia Ocidental em parceria com Cáritas Arquidiocesana de Manaus, conseguiram sair da produção apenas para subsistência e após três anos com apoio, capacitação técnica e organização coletiva, atualmente conseguem produzir banana, mandioca e outros alimentos, com boa produtividade, gerando excedente. A colheita das últimas semanas foi comprada pela Cáritas e vai ajudar além das próprias famílias dos agricultores, também outras famílias em situação de vulnerabilidade social durante a pandemia de covid-19.
Os produtos colhidos nas últimas semanas somam mais de quatro toneladas e foram comprados pela Cáritas Arquidiocesana, para distribuição em ação de assistência social para outras 200 famílias da zona urbana, cadastradas pela instituição junto a paróquias e áreas missionárias.
A capacitação técnica, organização social, trabalho coletivo, acesso a tecnologias agrícolas e acesso a políticas públicas vêm sendo viabilizadas desde 2016 em quatro comunidades que estão atuando em parceria com a Cáritas e a Embrapa Amazônia Ocidental: as comunidades São Francisco do Mainã e Jatuarana, no bairro do Puraquequara, e Frederico Veiga e Novo Paraíso, no bairro Tarumã-Açu, todas na zona rural de Manaus. “É uma satisfação muito grande ver essa mudança, porque há mais de três anos, eles viviam de algum extrativismo e quase não tinham produção agrícola nem para seu próprio consumo e agora é a primeira grande venda da produção deles”, afirma o coordenador de projetos na Cáritas Arquidiocesana Manaus, Antonio Fonsêca, informando que a entidade comprou desses agricultores cerca de duas toneladas de banana pacovã e mais de duas toneladas e meia de produtos como mandioca, macaxeira, limão, hortaliças e frutas. Fonsêca cita que a parceria envolve aproximadamente 95 famílias nas quatro comunidades. “Apesar do momento difícil que estamos passando, a gente faz uma análise positiva, porque hoje eles estão se mantendo e ajudando outras famílias com seus alimentos produzidos”, comenta Fonsêca.
O projeto pela Cáritas, chama-se “UKA-casa comum”, voltado ao desenvolvimento rural. Na parceria da Cáritas e Embrapa Amazônia Ocidental, os agricultores foram sendo inseridos em atividades de transferência de tecnologia da Embrapa, principalmente para produção de guaraná, mandioca, açaí e banana, além de participar de capacitações em diversos temas relacionados à agricultura.
O pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental, sociólogo Lindomar Silva, que articulou a parceria com a Cáritas e vem acompanhando o trabalho nas comunidades desde 2016, comenta que uma das propostas da atuação na comunidade tem sido possibilitar que os agricultores pudessem ter geração de renda mais permanente a partir da agricultura. Lindomar comenta que essa experiência vem mostrar que “agricultores familiares que estão numa lógica de pobreza, e que tem acesso à tecnologia e capacitação para utilizá--la, estão vivenciando um processo de acesso a uma renda mais estável a partir do que produzem, e isso é algo novo pra eles, porque antes tinham apenas a incerteza da atividade e do comércio do extrativismo”, comenta.
Por meio da parceria com a Embrapa, os agricultores foram inicialmente inseridos em projeto de produção de guaraná, depois em ações de projeto de fruticultura com o açaí, e mais tarde acrescentaram outras culturas com retorno mais rápido como a banana e mandioca. Dentre as tecnologias da Embrapa que os agricultores tiveram acesso estão: clones de guaraná mais produtivos e resistentes à antracnose e informações do sistema de produção; sementes certificadas do açaí BRS-Pará, mudas de banana multiplicadas em Laboratório de Cultura de Tecidos da Embrapa; insumos e manejo da cultura da banana e uso de tecnologia de deposição de fungicida na axila da planta para controle da sigatoka-negra em banana pacovã; cultivares e manejo da mandioca Aipim manteiga.
“As tecnologias não seriam suficientes sem a organização social da comunidade e o arranjo interinstitucional com as parcerias que permitem implementar um processo de produção e de geração de renda”, acrescenta o pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental, Gilmar Meneghetti, que também participa do trabalho junto às comunidades. A organização da comunidade, as capacitações, o planejamento conjunto e a prática de gestão coletiva, propiciadas pela parceria, vem possibilitando que o trabalho tenha continuidade e possa seguir com autonomia em relação às instituições apoiadoras. Um exemplo é que os agricultores criaram um fundo de recursos para pagar insumos, materiais e serviços de logística em comum (como transporte, combustível) necessários para o trabalho e assim prosseguir com a produção agrícola.
Um fator importante para implementar a produção agrícola na comunidade foi o trabalho coletivo, reforça uma das lideranças da comunidade São Francisco do Mainã, o agricultor Francisco Mateus da Silva, 62 anos. Ele conta que “antes tinha uma vida privada de muitas coisas”. Com o trabalho das oito famílias envolvidas na parceria em sua comunidade, começam a ver os resultados, que contam atualmente com dois mil pés de bananeira em produção, e já retiraram 200 sacas de mandioca para produção de farinha. “Isso traz uma alegria muito grande, a gente não tinha muita perspectiva e agora está trabalhando na nossa área, isso trouxe segurança, produzindo e colhendo a gente fica satisfeito”, afirma.