Publicado em 20/02/2020 17h20

Produtores buscam alternativas para amenizar os efeitos da seca

Quem produz hortaliças tem sentido os reflexos da estiagem e buscado opções para amenizar o impacto na lavoura
Por: Folha do Mate

Os longos períodos sem chuva deste verão têm causado impacto em diversas culturas agrícolas. Quem produz hortaliças tem sentido os reflexos da estiagem e buscado opções para amenizar o impacto na lavoura.

A engenheira agrônoma Djeimi Janisch, extensionista rural da Emater/RS-Ascar de Venâncio Aires, explica que especialmente mudas novas são afetadas pela baixa umidade do ar, altas temperaturas e a falta de água no solo.

Por isso, o uso do sombrite é uma das principais alternativas para garantir a produção. “O sombreamento ajuda a reduzir a temperatura. É uma ajuda importante, especialmente agora, que começa a época de merenda escolar e os produtores precisam fazer a entrega”, observa.

De acordo com ela, embora todas as hortaliças sejam prejudicadas pela falta de chuva, as folhosas – como alface, couve e rúcula, por exemplo – são as mais afetadas. Além disso, as safras do tomate e do pepino também devem sofrer perdas. “Por conta do calor excessivo, acontece o abortamento das flores”, esclarece a agrônoma.

“Todas as hortaliças sofrem com a estiagem, mas as folhosas são as mais prejudicadas. Quem tem cultivo protegido com sombrite ou estufa consegue produzir.”

INVESTIMENTO

O uso do sombrite trouxe resultados satisfatórios na plantação dos produtores Edson Carlos da Rosa, 46 anos, e Lisane Nunes da Rosa, 40 anos, que têm o auxílio do filho mais velho, Luiz Henrique, 19 anos, na entrega dos alimentos. Na propriedade da família, em Linha Campo Grande, interior de Venâncio Aires, um hectare é destinado para a produção de hortaliças.

Devido às dificuldades de produção em virtude dos dias quentes e a época de estiagem, a família conseguiu por meio de recursos do Programa Rotativo de Desenvolvimento Agropecuário de Venâncio Aires (Promagro), a instalação de sombrite na plantação.

Rosa explica que já tinha as madeiras para a estrutura, mas a cobertura, que custa cerca de R$ 3,6 mil, foi adquirida por meio do programa. “Ajudou bastante nos problemas do sol, funciona muito bem”, relata.

A estrutura ficou pronta no início do mês de dezembro e tem 50 metros de comprimento por 13 de largura. No local, são plantados couve-flor, brócolis, beterraba, tempero verde, couve chinesa, rabanete, vagem, repolho e alface. A irrigação das hortaliças é feita por meio de um poço e, agora, está sendo encaminhada a adaptação de um açude para auxiliar no cultivo.

A produção é comercializada por meio da Cooperativa dos Produtores de Venâncio Aires (Cooprova) e destinada às escolas do município, para as refeições no Exército de Santa Cruz do Sul, além da comercialização com clientes fidelizados.

Para este ano, a ideia é agregar à produção cebola e expandir a área de beterraba. “Nós temos cebola, mas só para nosso consumo, agora queremos fazer também para vender”.

O número aproximado de produtores de hortaliças em Venâncio Aires é 120. Os agricultores atuam com venda direta aos consumidores, em feiras, para supermercados ou Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).

Além do uso de sombrite, a cobertura do solo com palhada é uma orientação para os agricultores. A técnica protege a terra, diminui o surgimento de invasores e fornece matéria orgânica para o solo.

DIVERSIFICAÇÃO

Há 22 anos, a família do produtor Edson Carlos da Rosa trabalha no cultivo de tabaco. Em 2015, depois de um granizo que afetou toda a produção, com uma perda de 80 arrobas de fumo, a família decidiu utilizar parte da área para o cultivo de hortaliças.

Desde então, o negócio prospera. “Quando perdi o fumo fiquei sem nada, não tinha o que fazer, não cultivava outra coisa”, afirma. No ano passado, a família plantou 50 mil pés de tabaco e, neste ano, devem diminuir pelo menos 4 mil pés. “Queremos dar mais atenção às hortaliças”, conta o agricultor.

Rosa ressalta que a família usa agrotóxico somente no caso de muita necessidade. A ideia é sempre utilizar outras formas de manejo para combater as pragas na plantação. “Usamos muito pouco agrotóxico, tentamos resolver os problemas com produtos biológicos”, diz.

O produtor destaca que a assistência da equipe da Emater é essencial para tirar as dúvidas e tomar as decisões de cultivo. “A Djeimi sempre nos diz para termos controle dos nossos gastos, para fazer um balanço de quanto temos de lucro, essas dicas são muito boas”, comenta.

DOAÇÃO

Todos os produtos que sobram depois de colhidos são doados para o Hospital São Sebastião Mártir (HSSM), para as refeições dos pacientes. Lisane conta que, para não desperdiçar os alimentos, entrou em contato com a nutricionista da casa de saúde, que disse que os produtos eram bem-vindos. “Nós já precisamos ficar internados no hospital, fomos bem atendidos, é nossa forma de ajudar”, afirma.