Publicado em 08/08/2019 10h59

CEA-IAC 50 anos: Estudos estratégicos para o agronegócio

De aniversário, Centro de Engenharia e Automação do Instituto Agronômico tem história de inovação
Por: Leonardo Gottems - Agrolink

Programas para mecanização das culturas de uva e cana-de-açúcar, gestão agroambiental da terra e uso de agroquímicos e agricultura por imagem são apenas alguns dos estudos estratégicos para o agronegócio que marcaram os 50 anos – comemorados esse mês – do Centro de Engenharia e Automação do Instituto Agronômico (CEA-IAC). Os avanços posicionam a cidade de Jundiaí comoo polo de desenvolvimento. 

Mantido pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de SP, o Centro abriga uma equipe de cientistas dedicada a diferentes áreas de pesquisas ligadas ao agronegócio. O engenheiro agrônomo e pesquisador Afonso Peche, há 33 anos nos quadros do CEA-IAC, conduz estudos nas áreas de agricultura conservacionista e gestão agroambiental. 

São diretrizes do trabalho do cientista detectar, medir e avaliar impactos ambientais de ocupação e uso da terra, além de desenvolver modelos de gestão com objetivo de mitigar efeitos da intervenção da agricultura na natureza. “Nós substituímos continuamente paisagens naturais por paisagens cultivadas. Isso causa uma metamorfose nos padrões hidrológicos do solo e na recarga hídrica dos aquíferos, elevando riscos de poluição e degradação”, exemplifica Peche. 

Ele investiga em profundidade a relação entre propriedades rurais do Estado e bacias hidrográficas, além do inventário paulista de águas. Outro estudo liderado pelo pesquisador visa a promover e tornar acessível a operação da fertilização orgânica no País.

UVA

Ainda inédita no Brasil, a mecanização aplicada ao manejo da cultura da uva motivou outro desafio encampado com sucesso no CEA-IAC. Pelo menos três tecnologias na área estão em pleno funcionamento no centro, inicialmente com o emprego de protótipos em laboratório e a campo. Todas devem chegar ao mercado em cinco anos e atender também a produtores de outras culturas como pêssego e maçã, segundo explica o pesquisador Antonio Odair Santos, engenheiro agrônomo e pós-doutor em viticultura e enologia.

Santos desenvolveu dois protótipos altamente inovadores, para desfolha, poda mecanizada e pulverização de videiras, além de uma terceira máquina, hidráulica, específica para perfuração do solo, plantio de mudas de videira e colocação de mourões no estabelecimento e na renovação de vinhedos.

“Testamos os protótipos com a parceria de agricultores da região de Jundiaí. Os resultados comprovam a viabilidade da mecanização da cultura da uva no Brasil”, enfatiza Odair Santos, um entusiasmado produtor de vinhos artesanais.

Um trabalho idealizado por Santos e a engenheira agrônoma Maria A. Lima, doutora na área de tecnologia pós-colheita, resultou no desenvolvimento de uma técnica para mapear padrões de qualidade da uva antes da colheita. A inovação une um veículo motorizado a um aparelho portátil com espectroscopia de infravermelho, funciona com rapidez e não danifica frutos sob análise. “Testamos o método com sucesso nas safras 2017 e 2018. Obtivemos amostras precisas dos compostos fenólicos da fruta: nível de açúcar, acidez e taninos”, revela Maria Lima.

“A expectativa é que essa nova tecnologia beneficie toda a cadeia produtiva da uva num período de até três anos”, acrescenta a cientista do CEA-IAC.

AGROQUÍMICOS

O uso de agroquímicos é objeto de outro estudo do CEA sob responsabilidade da pesquisadora Maria Lima. Ela investiga, sobretudo, a presença de resíduos desses produtos em quantidade acima da permitida por órgãos sanitários locais e globais. Fomentar o uso correto de agroquímicos e proteger o trabalhador rural da exposição aos produtos também são linhas de pesquisas do CEA/IAC, a cargo do engenheiro agrônomo e pesquisador Hamilton Ramos.

Ramos coordena aos programas Aplique Bem, IAC-Quepia e Unidade de Referência em Tecnologia e Segurança na Aplicação de Agroquímicos. O Aplique Bem leva a propriedades rurais do País treinamentos práticos. Já a Unidade de Referência oferece cursos para multiplicadores de boas práticas na área, enquanto o IAC-Quepia desenvolve métodos de análise e certifica a qualidade de vestimentas e luvas de proteção ao trabalho rural. 

CANA-DE-AÇÚCAR

A histórica vocação do CEA para desenvolvimento de maquinário agrícola é ratificada hoje na atuação do engenheiro e pesquisador Roberto da Cunha Mello. Ele está à frente de estudos de ponta envolvendo colhedoras de cana-de-açúcar. Mello trabalha na construção de uma máquina concebida para minimizar efeitos negativos da colheita mecanizada da cana, principalmente perdas de produtividade.

“Ainda não existe no mercado mundial uma colhedora capaz de corrigir preparo do solo, plantio ou cultivo não adequados à colheita mecanizada”, ressalta Mello. “A máquina em desenvolvimento apresenta melhor desempenho em áreas de maior declividade e baixa produtividade”, revela ele. A meta do pesquisador, agora, é atrair um fabricante de máquinas para viabilizar a comercialização do novo equipamento.

IMAGEM

Uma tendência observada em diversos setores do conhecimento, o emprego de imagens digitais avança igualmente na agricultura brasileira. No CEA-IAC, os estudos do gênero são de responsabilidade do engenheiro agrônomo e pesquisador Antonio Loureiro Lino. Lino utiliza diferentes recursos por imagens na produção de trabalhos científicos sobre aplicação de defensivos agrícolas e testes de qualidade sobre equipamentos de proteção individual (EPI). Na área de pós-colheita, ele se apoia na digitalização com objetivo de avaliar o desenvolvimento de flores, frutos e hortaliças; condições de solo, sementes e folhas e a qualidade da produção agrícola em geral.   

Atual diretor do CEA-IAC, o engenheiro agrônomo Moisés Storino celebra o cinquentenário da instituição. “A inovação será sempre a principal estratégia do CEA. Seguiremos em busca de tecnologias para levar produtividade, menores custos e responsabilidade ambiental à agricultura.”  A meta para os próximos anos, diz Storino, é atrair investimentos em inovação aos laboratórios, oficinas e campos experimentais da instituição, fundada em 1969, que ocupa uma área de 110 hectares ao pé da Serra do Japi. De acordo com o diretor, atualmente há cerca de 20 de projetos de pesquisa em desenvolvimento na instituição.