Publicado em 13/12/2018 16h06

Agricultores e governo dos EUA tentam reduzir dependência da China

Os norte-americanos buscam alternativas para diminuir a dependência da demanda chinesa nas compras de soja, em meio aos conflitos comerciais com os asiáticos
Por: Estadão Conteúdo

soja2

Os agricultores norte-americanos buscam alternativas para diminuir a dependência da demanda da China nas compras de soja, em meio aos conflitos comerciais com os asiáticos. A China era o maior comprador da oleaginosa norte-americana. Mas, desde julho, quando foi adotada aplicação de tarifa retaliatória de 25% sobre todas as importações de soja dos EUA, os embarques de oleaginosa dos EUA destinados ao país asiático têm recuado expressivamente.

Grupos industriais e autoridades governamentais buscam um posicionamento maior em outros mercados internacionais, para além da China, incluindo a Europa e o Sudeste Asiático. "Enquanto desfrutamos da participação de mercado, a China se tornou dependente de nós ou nos tornamos dependentes da China?", questionou o secretário de Agricultura dos EUA, Sonny Perdue, em um evento do setor na semana passada. "Isso não é um equilíbrio econômico saudável", acrescentou Perdue.

A trégua temporária, anunciada pelos presidentes Donald Trump e Xi Jinping, durante a cúpula do G-20 na Argentina, aumentou o otimismo de que as tensões comerciais, que prejudicaram o cinturão agrícola dos EUA, poderiam diminuir. Rumores de traders apontavam que, em um eventual acordo, as estatais chinesas voltariam a comprar grãos dos EUA ainda em dezembro.

Apesar do cessar-fogo entre os países, os agricultores norte-americanos estão buscando outras alternativas para diminuir o impacto da redução de demanda na soja, como destinar derivados da oleaginosa para outros países, experimentar novas variedades de uso doméstico e, até mesmo, destinar algumas áreas de lavouras para a plantação de milho, na próxima temporada.

O Conselho de Exportação de Soja dos EUA, um grupo financiado por produtores e indústrias, realizou uma missão comercial regional à Espanha, com o objetivo de compensar perdas nas vendas para a China com compradores da União Europeia, Oriente Médio e Norte da África. Jim Sutter, diretor executivo da entidade disse que a ação "está longe de ser uma garantia que funcionará", acrescentando que as relações comerciais podem levar anos para serem construídas.

Os esforços de vender grãos produzidos no país para uma gama mais diversificada e ampla de compradores também direcionam as ações do governo Trump. O Serviço Agrícola Estrangeiro do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) enviou Ted McKinney, subsecretário do comércio, para a Indonésia e a África do Sul para promover a soja norte-americana. Já o secretário Sonny Perdue disse recentemente que a agência está trabalhando para abrir mercado para a oleaginosa em lugares como Japão, Índia e Malásia. O USDA encerrará 2018 com seis missões de comércio exterior e com sete missões programadas para o próximo ano, em comparação com as tradicionais três a quatro realizadas no ano passado.

Autoridades do USDA tentam também, junto a outros países, a eliminação de exigências relacionadas à qualidade e segurança das lavouras, o que ajudaria a derrubar barreiras em alguns mercados estrangeiros, disse Greg Ibach, subsecretário de Agricultura do USDA para programas de marketing e regulação.

As medidas, entretanto, não são uma "desistência da China" e sim, ampliação de mercado, segundo os agricultores. "A China é tão grande, não importa o que faça, sempre vamos sentir sua participação. Vai ser bom ter esses outros mercados para amortecer o golpe" disse Frank Legner, agricultor de Illinois.