Publicado em 05/01/2015 07h39

Estratégias para otimizar a adubação do algodoeiro no Cerrado

Aproximadamente 90% da área cultivada com o algodoeiro no Brasil está no bioma Cerrado, que apesar das boas propriedades físicas do solo e topografia favorável à mecanização, apresentam baixa fertilidade natural, elevada acidez, altos teores de alumínio tóxico às plantas e baixa reserva de nutrientes, principalmente fósforo, e por isso, são necessárias algumas correções antes do produtor dar início ao cultivo.
Por: Embrapa

algodao

Com o objetivo de melhorar a eficiência de uso dos fertilizantes na cultura, a Embrapa Algodão editou a publicação "Adubação do Algodoeiro no Ambiente de Cerrado", que está disponível para download. O material traz informações sobre as diversas fases da adubação, melhor época de aplicação dos nutrientes, dosagens e critérios de aplicação.

Conforme a pesquisadora da Embrapa Algodão, Ana Luiza Borin, que é especialista em Ciência do Solo, a adubação do sistema produtivo tem como premissa o balanço de nutrientes ao longo do ciclo das culturas envolvidas no processo, visando o sistema como um todo e não uma única cultura. "Nos cultivos da soja, do milho e do algodão, que são os predominantes no Cerrado, a elaboração de um programa de adubação com o acompanhamento de um engenheiro agrônomo é fundamental e deve começar pela análise do solo com o objetivo de diagnosticar as limitações químicas e definir estratégias de correção e recomendação", orienta.

A pesquisadora destaca que é imprescindível o desenvolvimento de estratégias de manejo que tornem mais eficiente a utilização de fertilizantes em sistemas intensivos de produção de grãos e fibra, principalmente, se for considerada a dependência externa de aquisição de fertilizantes, a valorização de fertilizantes em relação ao algodão, o risco ambiental das adubações mal manejadas e a competitividade do produtor brasileiro no mercado agrícola globalizado.  

No caso do algodão, o custo com fertilizantes pode representar até 30% do custo total de produção, enquanto que no mundo, é próximo a 14%. "Melhorias significativas da eficiência do uso dos fertilizantes podem ocorrer com mudanças nos sistemas de cultivo; com a introdução de culturas de cobertura do solo; com o uso de variedades mais eficientes e produtivas; com aplicação da dose com a fonte correta, no local adequado e na melhor época; com equilíbrio nas quantidades de nutrientes aplicadas e com rotação de culturas, preconizando a adubação das plantas do sistema produtivo", afirma.

Superada a etapa de "construção" da fertilidade, pode-se optar por um programa de adubação visando à manutenção da fertilidade e, posteriormente, adotar a adubação do sistema de produção como um todo, tendo como estratégia a reposição dos nutrientes exportados pelas culturas. Segundo Ana Luiza, devem ser tomados alguns cuidados para garantir boas produtividades. "É preciso considerar os créditos de nutrientes deixados pelos restos culturais anteriores, as expectativas de produtividades, as demandas nutricionais de cada cultura, a eficiência de aproveitamento dos fertilizantes e a evolução da fertilidade do solo para iniciar um programa de recomendação de adubação. Uma distorção muito comum é o anseio por altas produtividades, com aumento das doses de adubos sem usar critério técnico na recomendação, o que resulta em desequilíbrio entre os nutrientes e perdas", salienta.

 

Recomendações

A correção do solo deve começar de dois a três meses antes da semeadura, com a calagem, que tem como finalidade corrigir a acidez por meio da elevação do pH, além de fornecer os nutrientes cálcio e magnésio. "O calcário deve ser uniformemente distribuído sobre a superfície do solo, de forma manual ou mecanizada, e posteriormente deve ser incorporado com arado e grade até 20 cm", informa a pesquisadora. "Para que a reação do calcário inicie é necessária umidade no solo; a água tem papel fundamental na neutralização da acidez pelo corretivo, portanto, é preciso que ocorra pelo menos uma chuva no período anterior à semeadura", complementa.

Na adubação de semeadura realizada preferencialmente no sulco, ao lado e abaixo da semente, aplica-se parte do nitrogênio (10-15 kg/ha), a dose total de fósforo, metade ou um terço da dose recomendada de potássio e micronutrientes. A aplicação de quantidades elevadas de adubo potássico na semeadura pode prejudicar a emergência das plantas devido ao aumento da pressão osmótica no meio, uma vez que o cloreto de potássio tem elevado índice salino. O fósforo e o potássio são recomendados em função da análise do solo, considerando as tabelas de recomendação de adubação de cada estado ou região. A recomendação de nitrogênio é baseada na produtividade esperada e no potencial de resposta da cultura associado ao histórico de uso da área. É recomendável o uso de fontes solúveis de fósforo e de formulações NPK que contenham micronutrientes e sulfatos, seja como sulfato de amônio e/ou superfosfato simples, que além de N e P também fornecem enxofre.

A adubação de cobertura pode ser única ou parcelada, se necessário. A primeira cobertura deve ser feita entre 30 a 35 dias após a emergência, com nitrogênio (N) e potássio (K), com metade da dose, e com enxofre (S) e boro (B) caso não tenham sido aplicados na semeadura. A segunda cobertura com N e K (se necessário) deve ser entre 20 e 30 dias após a primeira. Este parcelamento aumenta a eficiência da adubação, pois assegura o fornecimento desses nutrientes na fase de maior absorção pelas plantas e evita perdas por lixiviação, sobretudo em solos arenosos.

As aplicações tardias de nitrogênio (após 80 dias de emergência) promovem o crescimento vegetativo excessivo, prolongamento do ciclo da cultura, aumento da queda de botões florais e da intensidade de ataques de pragas e doenças, sem que ocorra aumento da produtividade.

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