Publicado em 22/12/2014 10h27

JBS fez depósitos em contas do esquema

A JBS, maior processadora de carne bovina do mundo e conhecida pela marca Friboi, creditou R$ 800 mil em duas contas correntes de uma empresa fantasma investigada pela operação Lava-Jato. Segundo a Polícia Federal (PF), a conta está em nome de um laranja usado por doleiros como Carlos Habib Chater, condenado pela Justiça Federal a cinco anos e seis meses de prisão por lavagem de dinheiro e envolvimento com o tráfico internacional de drogas.
Por: Valor Econômico

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Preso preventivamente desde 17 de março, Chater integrava o esquema financeiro paralelo de Alberto Youssef. Pivô da Lava-Jato, Youssef é acusado de usar empresas fictícias para simular contratos com empreiteiras e desviar recursos da Petrobras.

A JBS fez quatro depósitos de R$ 200 mil em duas contas correntes da empresa Gilson M. Ferreira Transportes ME, totalizando R$ 800 mil.

Segundo análise da perícia da Polícia Federal, quatro contas em nome da empresa fantasma movimentaram R$ 58,8 milhões entre créditos e débitos somente no período de 2012 a 2013.

A PF descobriu que a suposta transportadora com endereço informado em São José dos Pinhais (PR) não existe: "Nas diligências realizadas no local indicado como sede da empresa, agentes do núcleo de operações não lograram êxito em localizar qualquer empreendimento comercial na área (...) A rua não tem sequer pavimentação".

A empresa - aberta em 29 de julho de 2011 e que consta como ativa no cadastro da Junta Comercial da cidade paranaense - tem como sócio responsável Gilson Mar Ferreira, que, segundo agentes federais, vive na periferia da cidade, à beira de um córrego conhecido como Rio Pequeno. "Trata-se de um imóvel simples, situado numa comunidade carente, às margens do rio que dá nome ao bairro da periferia da cidade", relata o inquérito policial.

As contas da empresa de Gilson Ferreira também foram destinatárias de três transferências, totalizando R$ 355,2 mil, que partiram do Posto da Torre, de propriedade de Carlos Habib Chater. Localizado em Brasília, o posto de gasolina contava com uma casa de câmbio ilegal. Segundo a investigação da PF, o posto operava como uma espécie de entreposto de entrega de dinheiro vivo, que era enviado por doleiros a políticos.

Também réu por lavagem de dinheiro, o gerente do Posto da Torre, Ediel Viana da Silva, disse que "[os políticos] não iam pessoalmente ao posto. Eram terceiros e muita gente retirava dinheiro".

Braço direito de Chater e delator do esquema criminoso, Silva contou em depoimento à Justiça Federal do Paraná que João Claudio Genu, ex-chefe de gabinete da liderança do PP na Câmara e condenado no mensalão, e o ex-deputado federal Pedro Corrêa (PP-PE), cassado por envolvimento no mensalão, frequentavam o Posto da Torre. Genu supostamente usava serviços de uma pessoa identificada apenas como Lucas para fazer retiradas do dinheiro encaminhado por Youssef.

O Grupo JBS doou legalmente R$ 352 milhões a candidatos a presidente, senador e deputado nas eleições de 2014. Foram R$ 73,3 milhões repassados à campanha para reeleição da presidente Dilma Roussef (PT). Para a campanha presidencial do tucano Aécio Neves (MG) foram destinados R$ 48 milhões.

Procurada na sexta-feira, a JBS informou por meio de sua assessoria de imprensa que só deve se manifestar sobre o caso hoje. "A empresa tentou obter os dados necessários para um posicionamento, mas, por se tratar de um final de semana e em especial véspera de Natal, não foi possível apurar os fatos alegados na reportagem", afirmou a assessoria da empresa, por e-mail.